Cenas da Cidade

O desconhecido interrompeu meus passos apressados e colocou uns brindes na minha mão. Pequenos folhetos com santos e orações, os “santinhos”. Mantive o ritmo, agradeci rapidamente, quando ele mencionou que bastava uma pequena contribuição para ajudar a obra beneficente. Devolvi rapidamente e segui a minha vida.

Uma turma animada joga na esquina. Com pequenas formas o malandro oculta rapidamente a bolinha. “Basta adivinhar onde está escondida a bolinha para levar a bolada de dinheiro.” Os parceiros da lorota se fantasiam de anônimos sortudos, criando ilusão para as vítimas perderem o dinheiro real. Marmelada de banana! Bananada de marmelo! A bolinha some quando aparece um imbecil!

Esta malandragem não é nova! Não sei se existe antes do ovo ou da galinha, mas ainda hoje é uma armadilha velha para vítimas novas.

Outros encontram uma boa alma com o bilhete da loteria premiado e dão um valor em dinheiro como garantia para descontar o prêmio para pessoa sem tempo de buscar a bolada.

A cigana me advertiu com a mão esticada: “Me deixa ler a sua mão, pois tem uma pessoa no seu emprego que quer te prejudicar”. Nunca gostei de previsão do futuro, nada como um dia após o outro. Sempre tive cuidado com as intenções alheias, assim confio desconfiando. Desculpa Dona Cigana, mas o destino a Deus pertence. Amanhã saberei do amanhã. A Senhora sabe quando começa o futuro? Agora!

Ao longo deste tempo conheci poucas pessoas que tentaram me prejudicar. Com o tempo algumas delas viraram parceiras e outras seguiram o seu caminho, longe do meu. A maior parte das pessoas me ajudaram demais!

Nada contra os ciganos e a sua cultura! Respeito! Mas a abordagem inicial não foi agradável e vou confessar que tenho medo de conhecer o futuro. Imagine saber exatamente tudo sobre coisas ruins que fossem acontecer! Quem dorme com isto?

Recordo de um amigo que tinha problema de visão. O encontramos de manhã no ônibus e ele estava abatido porque um dos olhos já estava condenado e ele ia ao médico avaliar a situação do outro. À noite soubemos que ele tinha cometido o suicídio, pois o médico o avisara que perderia os dois olhos.

Apesar de certo ceticismo, um dia, numa caminhada da vida, olhei para uma velha casa e a mente mostrou um velório ilusório naquela localidade. Obra da imaginação, mas a mente nem sempre mente. No dia seguinte, o imaginado era real. Choro, casa cheia e a luz vacilante das velas!

Não tenho domínio sobre isto, mas aconteceu outras vezes. Cheguei a dar conselhos: Tome cuidado! Não houve próximo encontro. Apenas a notícia do amigo que partiu!

Enfim, nas ruas de São Paulo e do mundo existem palcos perfeitos para o misticismo, malandragem, dramas, vidas e personagens variados. Com toda a tecnologia existem anda pessoas das mais variadas tribos e que fazem a diversidade interessante desse globo perdido no universo.

Enfim um morador de rua, numa noite fria me pede um real. Pergunto: “O que você vai fazer com o dinheiro?” Ele responde: “Vou tomar uma pinga porque tá muito frio.” Dei-lhe o dinheiro e desejei lhe boa sorte! Nem sempre o politicamente correto é a nossa decisão intuitiva ou racional.

Valdecir Donizeti
Enviado por Valdecir Donizeti em 11/06/2015
Código do texto: T5274048
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