HISTÓRIAS DE UM FRUSTRADO SENTIMENTAL

Em 1994 eu, aos 21 anos de idade, depois de haver raspado a cabeça (mas com a frustração de quem nunca fizera, até então, um vestibular), deixei o cabelo crescer por quase dois anos. O meu visual cabeludo dessa época (94/96), aliado à minha fama de maluco e de um ateu inveterado, culminava na mais absoluta provocação àqueles que não entendiam o meu jeito diferente (do jeito deles) de ser e de agir. Um cara do bem, um adepto e seguidor da ideologia “Raulseixística”, com uma filosofia de vida e um princípio muito simples: de fazer tudo aquilo que se quer, pois é tudo da lei.

A maior consequência disto, sem dúvida alguma, era a escassez de mulheres na minha vida. Nenhuma garota que eu imaginasse como uma provável candidata a ocupar uma vaga, há muito vazia no meu coração, iria querer namorar um cara que tinha fama de doido (a qual se justificava pelos meus atos). E com uma barba que mais parecia um “pai de chiqueiro”, apelido este colocado pelo meu amigo “Pepinha” (in memoriam), que só se referia a mim da seguinte maneira: - “Béééé...”

Sem falar naqueles dias em que eu me rebelava com a água e ficava, às vezes, mais de uma semana sem tomar banho e sem qualquer tipo de contato com a “coisa molhada” (o difícil era tentar esconder essa “atitude hippie” da minha mãe). O meu recorde, no entanto, foi de 12 dias, mas isso é um segredo que eu certamente irei levar para o túmulo...

Não foi à toa que eu saí quase “invicto” daqui da Paraíba, com pouca intimidade com o sexo oposto (até então, só havia dado dois “tapinhas na rachada”, o primeiro aos 23 anos). Toda garota que se aproximava de mim - mesmo eu estando com o banho e a barba em dia - só queria perguntar-me sobre cadernos, pedir-me algo emprestado ou talvez, fazer-me de otário, usando-me como passatempo enquanto não avistava o seu pretendente ou alguém mais interessante com quem pudesse falar (raríssimas exceções).

Eu nunca ouvi, pelo menos ao que me consta, da boca de nenhuma “infeliz”, aquelas três palavrinhas mágicas e que fazem toda a diferença na vida de um homem. Um EU TE AMO, a essa altura dos acontecimentos, poderia ter mudado o rumo dessa minha vida, de maneira decisiva. Mas isso, seguramente, sempre foi algo impossível de acontecer para uma criatura “inapaixonável” assim como eu, um sujeito preponderantemente incorrespondível, em se tratando de sentimentos. E nunca foi por falta de iniciativa própria, do tipo “correr atrás” ou “atirar para tudo que é lado”.

Entretanto, aos 25 anos de idade, enfim, conheci uma loirinha que me fez mudar em muita coisa. Nara Aline, a minha primeira namorada. Por ela eu cheguei, até mesmo, a estudar durante algum tempo no colégio “Ernestão”, à noite, mesmo com um certificado de 2º grau concluído. Era só um pretexto para acompanhá-la até a escola (e poder vigiá-la melhor). Eu saía da classe do 3º ano científico, onde havia me matriculado, e ia assistir aula com a turma da 8ª série, onde ela estudava.

O problema é que eu gostava mais da Nara do que ela propriamente de mim. E, por não ter havido uma reciprocidade maior, o nosso romance não durou mais do que três meses. Por fim, como sempre costumava dizer, eu a ganhei chorando e a perdi chorando, para alegria daqueles que torciam contra esse namoro. O meu “Exército de um homem só” desistira de lutar.

Isso me faz lembrar agora a Copa do Mundo de 1998 (esta data será sempre uma referência), quando o Brasil foi desclassificado pela França, na final, e eu fui parar no meio da rua chorando, enrolado numa bandeira. As minhas lágrimas, no entanto, não eram exatamente para a nossa Seleção. Foi nesse bendito dia em que a Nara acabou comigo, literalmente, e eu só aproveitei a oportunidade para disfarçar o que estava sentindo. Dramático? Sentimental demais? Sempre fui um babaca mesmo, e com B maiúsculo.

Somente dez anos depois viria conhecer a Vilma (é isso mesmo, 10 anos, o tempo que necessito para encontrar uma nova garota), aquela que seria, então, a minha segunda namorada e que o “destino”, durante esse intervalo de tempo, ainda estava me reservando. Realmente seria cômico se não fosse trágico, uma situação efetivamente corriqueira nessa minha vida de fracassos e frustrações amorosas.

Entre desilusões, inúmeros “nãos”, diversos “foras” e outros tantos “bolos”, creio que sempre fui uma vítima em potencial disso tudo. Mas, quando cheguei ao Rio de Janeiro e tão logo perdi a minha inocência e aquele meu jeitão de bobo, procurei descontar todo esse tempo perdido, frequentando lugares que eu até então só conhecia mesmo de “ouvir falar”, verdadeiros submundos da prostituição. Porém, isso é uma outra história...

TEXTO EXTRAÍDO DO MEU LIVRO DE MEMÓRIAS (projeto), 2009