CONFLITO DE GERAÇÕES

O coroa encontrou numa revista uns versos do Manuel Bandeira.

– Nada como os versos do Bandeira! – exclamou distraído.

A filha, admirada, até tirou o chiclete da boca: o quê? O Antonio Banderas, além de lindo, ainda faz versos? O avô, que escutara a conversa, veio lá de dentro: alguém falou no tenente Bandeira, aquele do crime do Sacopã? (gente, é tudo pesquisa, não sou tão velho assim).

São conflitos de gerações. As informações históricas vão se perdendo, substituídas pelas atuais, que um dia também virarão pó. Dia desses, apareceu na TV um clip com Elza Soares (um pouco recauchutada, mas ainda reconhecível). Enchi o peito e informei para o filho: essa foi mulher do Garrincha! Ele fez cara de pouco caso e percebi que não sabia quem foi Garrincha. Meu pai certamente se lembraria do Leônidas ou do Ademir da Guia, os melhores de seu tempo.

Na música, hoje proliferam as bandas (já fui o feliz anfitrião semanal dos ensaios de uma dessas). Antigamente, eram os bandos: Bando dos Tangarás, Bando da Lua...Entre bandos e bandas, com quais você ficaria? (Este é um teste para saber sua idade aproximada). O agarradinho gostoso dos boleros transformou-se em coreografias individuais: o dançarino mexe mais, porém sozinho. O inglês virou a língua oficial das músicas. Quem lembra o que era o samba-canção (não, não é aquele cuecão!)? A vovó, que estudou francês no Colégio Sion, busca se entender com o netinho, aluno do Brasil-Estados Unidos, mas que fala gíria de surfista.

Oscarito, o grande cômico, para a criança atual parece mais um tipo de “chips”: moço, me dá dois chicletes e um oscarito. Moça bonita desempregada diz que é modelo; antigamente, era vedete. Você lembra daquela frase: “tá mais por fora do que umbigo de vedete”?

O adolescente aprendia sobre sexo nas revistinhas de sacanagem do Carlos Zéfiro, que transitavam escondidas. Hoje, ele se vale dos filmes que o pai traz da locadora. Ou aprende com a namoradinha. Sinal dos tempos.