A ESCOLA DO MEDO

Eu não sei o que é mais preocupante, se é o problema ou a solução. O problema são as armas e as drogas que entram nas escolas, com seu potencial de violência e descaminho. A solução, pelo menos em Belo Horizonte, é a instalação de detector de metais a que se sujeitarão todas as pessoas que ingressarem nos estabelecimentos de ensino, inclusive e principalmente os alunos. Sujeitos, ainda, à “inspeção visual de seus pertences quando identificada alguma irregularidade.”

Assim, para garantir um bem, que é a segurança, a lei municipal, com cheiro de inconstitucionalidade, atropela outros bens de igual valor: a privacidade e a dignidade da pessoa humana, por exemplo. Colocando todos – adultos, adolescentes e crianças em fase de formação – no mesmo saco, como possíveis delinquentes, até prova em contrário.

Ora, entrar numa escola não é o mesmo que entrar num banco. Este fornece dinheiro; aquela, educação. Um abastece o bolso e a outra, o espírito. Dessa forma, a medida policialesca que cabe num banco não se harmoniza com o ambiente em que o jovem, ainda imaturo, vai à procura de conhecimento. Significa, ao contrário, uma péssima mensagem subliminar que o educandário passa ao estudante, antes mesmo de ele pôr o pé na sala de aula. Ou seja, a escola – que deveria ser a extensão do lar – antes de receber o aluno estará recebendo um suspeito. Estigma que se renovará implacavelmente todos os dias do ano letivo. Nesse clima, com que moral a escola vai ensinar a esse mesmo aluno os valores da cidadania? Com que isenção vai explicar-lhe o dístico da bandeira de Minas, que proclama “liberdade ainda que tardia”?

Além do mais, tal medida não seria totalmente eficaz. A droga entraria no buraco ou por cima do muro, sem falar em outros buracos que são rotineiramente utilizados para introduzi-la nos presídios. E a arma, se intimida as pessoas no interior do colégio, poderá fazer o mesmo contra o guarda ou vigilante da escola. Nem todo o aparato de segurança empregado pelos bancos inibe a ação dos malfeitores.

O verdadeiro problema, portanto, é mais embaixo. Se hoje a escola pública é a escola do medo, que assusta até os professores, é porque há algo de podre no reino da pátria educadora, que não será resolvido com câmaras de vigilância ou detectores de metal. Tecnologia que também não resolve, a contento, o problema da segurança nas ruas.

Portanto, se não houver um investimento amplo e prioritário na educação, para retirá-la do “volume morto” em que se encontra, medidas paliativas não vão tapar o sol que a atrofia. Hoje são os detectores de metal; amanhã, quem sabe, tornozeleiras eletrônicas e uniforme vermelho da própria escola.

E depois das escolas...virão as creches? Bebês monitorados por fralda eletrônica?

E aqui eu faço a última pergunta: onde, afinal, vamos parar? Eu não sei. Mas sei onde e como a história começou. Começou numa época em que o único detector que havia na escola era o do patriotismo. Para entrar, bastava você saber o hino nacional. Não sou saudosista, mas me lembro muito bem.

Era simples assim: “Ouviram do Ipiranga...”. Mas hoje ninguém ouve mais.

Pereirinha
Enviado por Pereirinha em 20/06/2015
Reeditado em 21/06/2015
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