A UTOPIA PETISTA
 
Lembro-me de uma cena hilária que vi outro dia em uma padaria. Eu havia entrado lá para comprar pão. Enquanto esperava a funcionária embrulhar os meus pães, entrou um cara com vestido com uma jaqueta de couro e se dirigiu para o lado do balcão onde havia um estoque de torradas e biscoitos. O sujeito deu uma olhadela dissimulada para os lados e percebendo que ninguém estava prestando atenção nele, com a rapidez de um mágico pegou um pacote de biscoitos e colocou debaixo da jaqueta. Já ia se preparando para sair, quando uma senhorinha, a única que tinha percebido o roubo, chegou de mansinho perto do dono e entregou o ladrão. O cara percebeu que tinha sido descoberto e mais que depressa tirou o pacote de biscoitos debaixo da jaqueta e disse para a moça que estava me atendendo: ─ Tá vendo moça? Você precisa ser mais esperta. Se eu fosse um ladrão já tinha levado esse pacote de biscoito!
O golpe não colou. O dono da padaria, um portuguesão nervoso e barrigudo saiu imediatamente de trás de balcão e deu um pescoção tão forte no sujeito, que ele foi parar no meio da rua. ─ Que estais a pensar, ó gaijo! Pensas que me enganas? Vai roubar a tua mãe, ó desgraçado!
 
Recordei essa passagem vendo o Lula na televisão reclamando do seu partido, dizendo que seus correligionários petistas só pensam em cargos e dinheiro. Que esqueceram a “utopia” pela qual o PT sonhou e lutou e se tornaram “iguais aos outros”. A quem o Lula pensa que está enganando com esse jogo de cena? Ele, que sempre foi o chefe e o principal beneficiário do esquema que o PT montou para se conservar no poder e continuar espoliando o país?
Esse sempre foi o mal do PT. Separar o mundo entre “nós e eles” se esquecendo que só existem diferenças entre as pessoas quando elas são criadas e aprendem a viver em ambientes diversos, desenvolvendo diferentes culturas. Alguns petistas, no começo,  talvez fossem idealistas sonhadores, como o Lula disse, mas querer que uma malta de sindicalistas  aventureiros, que constitui a base do partido, se mantivesse presa á um ideal de honestidade e probidade depois de ver os cofres públicos abertos e sorrindo para eles,  é demais até para o maior dos ingênuos.
Coisa que o Lula nunca foi. Ingenuidade e probidade nunca fez parte das suas qualidades, que diga-se a bem da verdade, ele tem. Ninguém pode negar que ele é um excelente articulador, um politico competente, que tem uma visão apuradíssima da realidade, sabendo usar muito bem pessoas e situações em proveito da sua tese. A prova disso é o seu conluio com as empreiteiras, conluio esse que lhe rendeu dois mandatos como presidente e mais dois para o seu partido, perfazendo dezesseis anos de poder. E um status pessoal de Prêmio Nobel, que hoje lhe dá duzentos mil por palestra. Por que lhe pagam tanto, só Deus sabe. Deus e os empresários que o pagam, aliás. Nem artistas coonsagrados, ou ex-presidentes americanos, passando por cientistas de renome, com Nobel e tudo, ganham tanto por uma palestra quanto o Lula, que nem curso superior tem.
Mas essa agora de ele começar a meter o pau em sua própria gente é demais. Soa como o ladrão que foi descoberto e começa a gritar “pega ladrão” para desviar a atenção das pessoas. O que ele quer é achar uma desculpa para se desgrudar do PT e da Dilma, como um rato que vê o navio afundar e procura a sobrevivência a qualquer custo. Agora não é mais "nós e eles" mas sim "eu e eles".

Resta saber com que tipo de utopia o Lula andou sonhando. Utopia, por definição é o sonho de um paraíso, geralmente irrealizável. Uma ordem social perfeita que só existe na imaginação de alguém. Se o que o Lula e seus camaradas andaram sonhando era, de fato, uma utopia, então o PT jogou o país em uma das maiores crises da sua história por conta de uma quimera.
Que aliás só foi uma quimera para o povo crédulo e mal informado que acreditou neles. Por que para os caras que hoje  “só pensam em ganhar dinheiro e ocupar cargos” que o Lula apontou, esse sonho foi bem produtivo. Zé Dirceu, Pallocci, Vaccari Neto e outros que encheram as burras, que o digam.
O próprio Lula e sua família também. Nem o personagem do Alquimista, conto que o Paulo Coelho copiou das Mil e Umas Noites, se deu tão bem quanto eles com a realização de um sonho quimérico. Mas para o resto do povo brasileiro, como estamos vendo agora, o sonho se tornou um pesadelo.