O MEU RELÓGIO LANCO

Desde criança era vidrado em relógios, ficava de queijo caído, morrendo de inveja, olhando para o pulso das pessoas que possuíam relógios; eu só usava, claro, relógio de brinquedo, mas fazia de conta que era um Omega ou Mido. Pero, hermanos, quando fiz doze anos e fui aprovado em segundo lugar no Exame de Admissão ao Ginásio - maior façanha de minha curta carreira na área educacional, terminei na marra curso ginasial - meu pai me deu uma caixinha embrulhada em papel de presente. Quando abri, bem devagarinho, meu coração bateu no compasso da timbalada, era o objeto dos meus sonhos: um relógio de pulso da marca Lanco, pulseira de couro marrom, mostrador preto e ponteirinhos dourados apontando as horas em algarismos arábicos. Quando coloquei-o no pulso senti a mesma emoção que sente um atleta das olimpíadas quando lhe colocam uma medalha de ouro no peito.

Esse relógio me acpmpanhou por muito tempo. Eu o cercava de muitos cuidados, só usava-o para ir para o ginásio ou ao cinema, o resto do tempo ele ficava dentro da caixinha em cima do guarda-roupa da minha mãe. Não deixava nenhum dos meus irmãos pegar nele. Eu tinha muito medo que ele se arranhasse, andava com cuidado, isando em ovos, jamais corri com ele no pulso, sempre que ia sair com ele olhava para o céu para ver se ia chover. tinha medo que levando chuva desse defeito. E o maior cuidado era para dar corda nele, nunca dei corda até o fim, muitas vezes pesia ao meu pai que fizesse isso. E a vaidade? Quando passava na rua balançava o passo para as pessoas notarem o meu Lanco, principalmente as garotas do ginásio das freiras.

Bom, um dia perdi o meu relógio. Nada dura para sempre. Foi em 1964, dormi numa pensão na Rodoviária, fora tirar a carteira de identidade, então quando fui doermir tirei o relógio do pulso e botei num preguinho junto à cama. Na pressa quando acordei para pegar o ônibus e voltar para Pesqueira esqueci o Lanco. Já dentro do ônibus dei pela falta, voltei mas o Lanco já era, levaram. Fiquei desolado.

Nunca mais vi um relógio Lanco, acho que anão existe mais. Possuí vários relógios, mas nenhum me deu tanta satisfação quando o Lanco. Disse que era doido por relógios, não sou mais, agora uso apenas um Cássio G-Shock, dá para o gasto. Mas a saude do Lanco nunca passou. Que saudade do meu relógio Lanco.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 25/06/2015
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