Amor em tempos de redes sociais - Raul Franco

Ah, as redes sociais! Elas podem ser tudo menos aliadas do amor. E certamente atrapalham muito mais do que ajudam. Porque parece que você está lá, disponível, pronto para receber todo e qualquer tipo de mensagens e curtições. E sendo observado com olhos em brasa por sua vigilante namorada.

As redes sociais alimentam mais a febre da desconfiança do que outra coisa. Você está lá exposto, como carne no açougue. E é preciso saber usá-las com prudência. O que você diz se espalha e prolifera como um vírus. E você é deturpado, mal interpretado. Na pressa de dar conta de todas as mil informações que estão numa timeline, muita gente passa a vista no que você disse, entende à sua maneira e já te bombardeia ou critica.

Não há muita paz nesses meios pelo visto. É a febre da tensão que nos assola constantemente.

Eu tive muita sorte de ser de uma outra geração. De ter tido relações muito importantes que dependiam de um telefonema pra marcar o encontro da felicidade. Eu era acostumado a viver a relação, a dividir coisas verdadeiramente. Porque hoje parece que a gente quer mostrar muito mais que curtir (opa, mas não o botão curtir que você curte por impulso no facebook, mas o curtir com entrega, ao vivo). Somos seres em exposição. E as redes sociais nesse caso soam como uma arma mesmo. E as vítimas sempre seremos nós.

Vi uma amiga minha que em menos de 3 meses mudou o status de relacionamento 3 x. Ela marcou que estava em um relacionamento sério com um cara. Depois já estava solteira. Depois era outro relacionamento sério com outro cara. E tudo está ali pra todos verem sem muito esforço. E se está lá você pode opinar, intrometer-se.

Lembro quando eu resolvi entrar no Facebook, já que muitos amigos diziam que eu deveria entrar. Nem conhecia direito essa rede social tão em voga atualmente, mas fiz o cadastro e entrei. Meu perfil estava criado. E eu fui fazer outra coisa. Minha namorada na época veio com tudo pra cima de mim: "Olha, trata de botar que você namora". Eu disse: “Ok, vou ver isso daqui a pouco”. E deu uma hora, ela voltou a dizer: “Não mudou ainda por quê?” Isso tudo ela mandando e-mail do trabalho dela. Achei tão chato que disse: “Quer saber? Não tem mais Facebook…” E suspendi a minha inscrição só retornando algum tempo depois. E olha que meu namoro já era longo, algo consolidado para ter esse tipo de coisa. Mas é como se essas redes sociais promovessem a nossa imbecilização. E, vamos combinar, não precisamos disso.

Antes era namorar pra ser feliz, pra encontrar alguém especial. A relação era restrita a duas pessoas. Você escrevia algo para aquela pessoa, só pra ela. De preferência no papel. Se começava o namoro, era algo entre você e a pessoa. Se brigasse, era entre você e a pessoa. Se terminasse, era entre você e a pessoa. Sinceramente, tudo era mais fácil, bonito e intenso. Amores sendo usufruídos em segredo. Hoje temos a necessidade de explanar. De contar os nossos passos, de mudar nossos status permanentemente. E é preciso descansar dessa febre, dessa roda viva. É preciso estar off-line. E respirar, ver o mundo de outra forma.

Quisera eu ter resistido, ter sido chamado de ET por não fazer parte dessa rede social. Mas a gente não quer ficar de fora dos modismos. Por mais que a gente adoeça com isso. Mas antes doente do que fora de moda, podemos pensar.

Eu tive a sorte de ter o outro lado. De ir a casa da pessoa e estar com ela, não disfarçar o meu tédio da relação, pegando o celular. Hoje estamos com todo mundo através de um simples aparelhinho e com ninguém ao mesmo tempo.

Se olharmos racionalmente, é triste. Sinto saudade de outros tempos. Acho que é a idade. (risos). Antes, se eu terminasse uma relação, tinha o tempo de processar o luto, assimilar a perda. Hoje terminamos e vamos fuçar o face do ex, querendo monitorar os passos dele e sofrer com alguma nova foto dele com outro alguém. Por mais que seja alguma coisa momentânea, aquilo vai nos magoar. Porque ele pode até estar querendo aproveitar a vida em silêncio, mas se ele sai e fica com alguém, vai sempre ter outra pessoa que vai querer registrar isso numa bela foto de celular e jogar nas redes sociais e marcar a pessoa que, talvez, nem quisesse isso, e isso acaba chegando até você que ainda sonha com uma volta, fazendo com que você se feche, pense mil coisas e sofra. Ufa! Vê como isso é maléfico e devastador? Cadê a paz das relações?

Hoje vivemos pra mostrar, explanar, exibir. Não interessa apenas fazer uma coisa, mas registrá-la. Até o sexo muitos querem registrar com a desculpa de que: “Depois eu apago”. E se for gravado pelo celular, e o mesmo é perdido ou roubado, está lá o registro da transa. Vai parar onde? Redes sociais. Isso pra não falar em pessoas que são mau caráter e as mesmas jogam nas redes. Mas o que importa é que estamos fazendo coisas desnecessárias. Já que inventaram isso, como resistir a vontade de não expor toda uma vida? De viver em silêncio ao invés de viver em barulho?

Saudade. Muita saudade de quando realmente se vivia uma vida a dois. De quando você ia pro quarto apenas com aquela pessoa e não com o mundo.

Sinceramente o que estamos nos tornando?

Confesso que estou com uma certa preguiça de iniciar uma relação com as perguntas: “Qual teu face? Tem whatsapp?” Dá vontade de simplesmente dizer: "Tenho alma. Serve?"

Raul Franco
Enviado por Raul Franco em 26/06/2015
Código do texto: T5290904
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