Acreditem em mim, se pudesse definiria...

Corpos, cropos, copros, copos

vazios e de um batom ausente com certeza manchados

Não bebo pois faz mal à garanta

mas falo, o que pode fazer mal à cabeça

Línguas

me diziam ser como água

escorrendo por entre os dedos

Outras não falavam nada

e só deixavam passar o ar ofegante em cima dela

Mãos

que me seguravam o rosto e olhos que miravam fundo nos meus procurando algo qualquer

ou algo bem específico

Outras já me estapeavam e me agarravam as nádegas

e seus olhos caminhavam por meu corpo

alguns com voracidade

outros com ternura

mas esses não me olhavam nos olhos

Depois sempre

agora e antes

fumava cigarros fazendo mal à minha garganta

tento não pigarrear pra não agredi la mais

mas não podia evitar quando se aproximavam

pois era um forma de distração a mim mesma

e tranquilizava minha própria presença ali

naquela sala de estar que cheirava a lar

Um conforto que anda me parecendo familiar

e essa segurança corpórea que sempre me foi estranha

misturando-me com pêlos e peles

com variados gostos e cheiros

aqueles diversos mundos reunidos todos em uma cama de casal

ninguém tinha medo por isso não nos preocupamos em desligar as luzes

Só eu que tinha medo

mas não era deles, nem do meu corpo, nem das luzes

era medo de um outro

de como esse me faz pensar inconveniente

de como enquanto era pra não pensar penso

Um medo que leva minha mente milhares de quilómetros de distância

E entrelaçada nesses corpos, entre esses copos

faço poesia e miro a fumaça subindo em rodelas

Pratos, talheres e fatos

Como durmo e vou pra casa

mas caminhando não chego onde está

caminhando escrevo esse texto na minha cabeça

que por sinal demorei mais de hora para escrever

que por hora me é um sinal

dizendo "corra, mas corra rápido."

mas só consigo me paralisar

porque se correr não paro

não até chegar lá

em uma cama de solteiro

Naquele mundo que me dá medo

sem fumaça e sem hálitos de álcool

mas com tudo que meus poros desejam

sem nada do que tenho agora

Maldigo o sexo escorrendo

Com minha língua, mãos e olhos

Lambendo, tocando e assistindo

louca pra dar um trago

Não me preocupando em encurtar a escrita

Acham que sou maluca ?

Ouço que sim quando me sussurram no ouvido "como tu estás ?"

E penso: longe.

Facas não fazem barulho
Enviado por Facas não fazem barulho em 29/06/2015
Reeditado em 29/06/2015
Código do texto: T5293446
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