Anotações do amor ferido

JÁ FAZ TANTO TEMPO. não há mais tempestade, não há mais loucura nem uma relação sufocadora. estamos livres.

o distanciamento já me abre os olhos para muitas coisas que deixei de ver. o distanciamento me dá respostas que eu esperava ouvir da sua boca.

como é engraçado quando a gente se aproxima de alguém que acha interessante. no início, parece que a pessoa é a nossa cara, fala aquilo que a gente quer ouvir, ouve o que a gente quer falar. tudo parece mágico. a gente se sente forte e disposto a encarar a vida com todas as suas dificuldades. mas, num dado momento, a gente é surpreendido. o que parecia atrair, agora repulsa. o que era interessante, passa a agredir.

você que, um dia, me deu força, me deu alegria, me fez sentir alguém, em um outro dia, fez com que eu me sentisse fraco, triste, ninguém.

coloquei um traço no chão e disse: o que estiver atrás desse traço é passado, não mais acontecerá. na frente do traço é o avanço, a descoberta, o passo rumo ao futuro. escolhi caminhar na frente do traço. hoje construo uma nova vida, entendendo melhor o que passou e sem querer voltar atrás.

acho que você apareceu no meu caminho para me ensinar a perder, para mostrar as minhas fraquezas através de lupas. acho que tínhamos débitos para resolver nessa vida. não sei se já os quitamos. também se não quitamos, teremos que nos encontrar mais uma vez, quem sabe, em outra vida, já que o espírito permanece, mudando apenas a sua roupa.

acabei me esforçando para entender você que esqueci de me entender. quando me abri com você, tentei ser compreendido, não julgado. mas a senti na defensiva, com duas pedras na mão. senti-me um inimigo. tentei driblar sua fortaleza, o seu muro, para buscar o que havia dentro de você, o que ainda podia me comunicar.

o que buscamos é realmente sermos escutados, levados a sério. e isso, em um momento, deu-se entre nós. podemos dizer que daí nasceu a paixão e o desejo de ficarmos juntos.

você poderia ter me escutado com o mesmo senso de descoberta e a mesma alegria do início, mas isso não aconteceu. eu já não sou a grande novidade que fui. o que antes você tomava como belo em meu comportamento, agora você julga.

é engraçado que as mesmas coisas que nos aproximaram, serviram para justificar o nosso afastamento.

antes, poderíamos estar nos tornando uma única pessoa. só que, de repente, nos demos conta de que nos tornamos a nossa própria pessoa. e o que poderia ser a grande soma, tornou-se a cruel subtração.

é até bom que sigamos nosso próprio caminho. que conheçamos outros beijos, outros corpos, outra maneira de namorar, de fazer amor, de dialogar. nesse instante de encontro com novas pessoas é que saberemos o que realmente valeu ou não em nossa relação. talvez, o nosso amor não seja para essa vida, seja pra outra. e isso pode nos servir de conforto, de paz espiritual. chega de culpas e penitências. o universo é muito grande e nos guarda surpresas.

um dia, imaginávamos que seríamos namorados para sempre. hoje sinto que somos uma foto rasgada, postada no face com a legenda: “separados para sempre”.

isso aqui é o FIM.

Raul Franco
Enviado por Raul Franco em 01/07/2015
Código do texto: T5295628
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