NA CATEDRAL

NA CATEDRAL

Um dia desses, caminhando pela esplanada dos ministérios, meio que sem rumo, pensando na vida e nos seus dissabores que causam arrependimentos, pensei em poucas coisas boas também, para tentar talvez me livrar dos pensamentos ruins, mas eram eles que insistiam em permanecer na minha mente, eram esses pensamentos que me induziam a fazer uma loucura.

Pensei em voltar pra rodoviária, pegar meu ônibus e ir de vez para casa, mas não conseguia, não tinha coragem de encarar minha família de frente, então continuei a vagar sem rumo por aquele gramado cinzento que o mês de agosto causa em Brasília, não sei, fazia calor mas sentia um frio gelado na alma e no corpo, decidi então entrar na catedral, não sei porque entrei, foi meio que involuntário, quando me vi, já estava lá dentro contemplando os vitrais multicoloridos e ao mesmo tempo observando que do lado interno as cores são muito mais vibrantes, o sol transpassava o interior da catedral de formas diferentes, variava de acordo com a cor, parecia que cada tonalidade de seus raios tinha uma tonalidade particular, com isso, senti minha pele sendo levemente queimada como um corpo se sente ao bronzear-se, mais que isso, senti os raios multicoloridos transfixando meu corpo, momento de êxtase total, meu corpo parecia flutuar naquele templo, adormeci de verdade.

Quando acordei, estava caído em frente ao altar, uma meia dúzia de pessoas falando ao mesmo tempo ao meu redor, não consegui entender nada do que diziam, estava ainda meio confuso, mas a sensação que sentia agora era de alívio imediato, era como se ao entrar ali carregasse uma imensa cruz e de repente ela desaparecesse como num passe de mágica, que alívio! Me levantei sem devagar e as pessoas que já não falavam mais nada nesse momento foram se afastando e aos poucos sumiram como se dissolvessem a medida que andassem, apenas um senhor de meia idade e cabelos grisalhos não desapareceu, ao me ver saindo do templo disse:

´´Vá em paz meu filho, Deus está do teu lado, caminhando contigo, guiando teus passos e iluminando teus caminhos.``

A partir daquele momento, foi como se um estalar de dedos terminasse de me acordar, é como se estivesse com sono e me despertasse de vez, minhas vistas estavam nubladas e as névoas sumiram instantaneamente, aquela vontade anterior de não ir embora desapareceu, não via a hora de chegar em casa, abraçar bem forte meus filhos e dizê-los o quanto os amo, lhes perdir perdão por não ter encontrado emprego, que mesmo chegando de mãos vazias, sem pão nem leite e nenhum centavo no bolso, lá está o pai, um pobre coitado ,mas rico de amor pra dá-los.