Nada é para Valer Tanto

O Secretário Estadual de Transportes parece inclinado a desistir da implantação do metro de São Gonçalo até Niterói. Não chegará nem mesmo a optar pelo VLT. Ficará com o BRT. Cujos resultados em termos de mobilidade urbana são discutíveis, para não dizer pífios, se considerarmos as opiniões de pessoas simples que trabalham como faxineiras em apartamentos de classe média da Barra da Tijuca. Isso porque, tanto na ida como volta, essas pessoas utilizam-se do transporte na condição de sardinhas em lata. Sem contar com o fato de que o BRT não consegue demover a classe media do uso de seu carro particular. O que significaria tirar um bom número de carros da rua, facilitando o escoamento do tráfego. Isso porque a classe média não estará disposta a trocar o seu conforto, ainda que sob enervantes engarrafamentos, pelo desconforto – e às vezes insegurança – do BRT.

E insiste-se com isso ao longo da Av. Brasil, apesar dos resultados discutíveis, para não dizer pífios, já detectados com as linhas do BRT em operação.

São direitos que a classe média não tem – o de poder contar com uma alternativa para deixar seu carro em casa. Que pode fazer quem mora em Copacabana. Através da utilização do metro, desde que parem de acontecer os assaltos ou arrastões.

E são direitos que a classe mais próxima da base da pirâmide também não tem – o de poder contar com um transporte com condições mínimas de conforto. Já que em geral não dispõem de automóveis.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada pela ONU em 10/12/1948, também concede direitos à pessoa humana que todos sabemos que ela não tem. É só perguntar ao cidadão cubano se ele pode contestar abertamente seu governo sem correr o risco de ser preso. Ou perguntar ao mesmo cidadão cubano se haverá algum proveito na contestação do injustificável embargo econômico promovido pelos EUA à Cuba. Ou ao palestino se ele pode impedir que os israelenses lhe confisquem a propriedade ou parte de seu território. Ou que as meninas do Boko Haram consigam impedir que seus sequestradores eventualmente as estuprem.

Então, pretender que tenhamos o direito de exigir melhores condições de transporte urbano em nossa cidade pode parecer uma brincadeirinha, perto de certo consenso mundial segundo o qual as coisas só existem para valer no plano da retórica.

Rio, 29/03/2015

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 05/07/2015
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