JOGANDO SINUCA

Quando estudávamos na Escola Agrotécnica Nilo Peçanha (EANP), em Pinheiral, Estado do Rio, uma das diversões dos estudantes era jogar sinuca (sinucão).

Naquele tempo, havia uma rivalidade muito grande entre os alunos da Escola e os rapazes da Vila. Do futebol à sinuca, tudo era disputado com muita garra. O meu primo Roberto e o amigo Antônio Carlos, ambos de Porto Firme, eram bons na sinuca, embora não jogassem como o colega Hélio.

Como era de costume, aos domingos, após o café da manhã, íamos para a Vila (Pinheiral ainda não era cidade), assistíamos à missa das nove e, enquanto aguardávamos a passagem do trem que vinha do Rio para São Paulo, para a compra de jornais, íamos para um salão de sinuca que ficava na Praça principal. Lá se reuniam os famosos cobrões da sinuca.

Certa manhã de domingo, estávamos assistindo a uma partida de sinuca entre o melhor jogador de Pinheiral e um colega nosso, de apelido Bragantino, por ser de Bragança Paulista.O nosso colega só estava com dez cruzeiros no bolso e, mesmo assim, topou apostar cinco cruzeiros. Ganhou as duas primeiras partidas, ambas pela bola sete. Segundo os dois amigos de Porto Firme, o Bragantino estava um pouco “piançado”. Esta palavra era muito usada em Porto Firme, na década de 50, entre os jogadores de sinuca. Significava que o jogador estava apavorado, deixando de “matar” as bolas que estavam “na reta”.

A terceira e quarta partidas foram vencidas pelo outro jogador, que propôs jogar o desempate (já que não podemos mais usar o outro nome...) para o qual cada um deveria colocar vinte cruzeiros na caçapa. Como o nosso colega só estava com dez cruzeiros, alguém da turma emprestou- lhe dez cruzeiros.

Com o dinheiro na caçapa, veio o arrependimento. E se eu perder? pensou o Bragantino. Terei que pagar o “emprestado” e, ainda, o “tempo” para o dono do bar. Desistir como? O parceiro não iria concordar...

Aí veio a solução. O parceiro, que deveria dar início à partida, foi ao banheiro. Aproveitando a oportunidade, o nosso colega tirou os seus vinte cruzeiros da caçapa, colocou-os no bolso e desceu a escada do bar em desabalada carreira em direção à Escola.

O rapaz de Pinheiral, quando voltou do banheiro e verificou o ocorrido, saiu correndo atrás do colega, não o alcançando, pois o mesmo havia entrado pelo lado do Posto do Ministério da Agricultura e, por ali, existiam diversos caminhos para a Escola.

Saímos rapidamente do bar, pois poderia sobrar alguma coisa para nós...

Moral da história: O nosso colega raspou a cabeça para não ser reconhecido e passou uns dois meses sem ir à Vila, deixando de ver os filmes no cine Odeon e de ouvir os jogos do Fluminense, no bar Cruz de Malta, seus pontos prediletos, aos domingos.

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Murilo Vidigal Carneiro- Calambau , junho/2015

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Enviado por murilo de calambau em 07/07/2015
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