No Tempo das Donzelas

No tempo das donzelas...

Jorge Linhaça

Saudoso o tempo em que as jovens moças dançavam para se alegrar, apenas com a cara e a coragem.

Saudoso o tempo em que um baile era um reunião social para se travar conhecimento e, por que não, lançar e receber alguns olhares de pretendentes, flertando sem pressa, num intrincado jogo de sinais.

Ah, velhos tempos em que se saía para dançar e voltar para casa ao invés de ir parar em algum motel barato com um(a) desconhecido(a) logo depois.

Hoje as donzelas são caça e caçadoras de emoções baratas, embaladas por “músicas” que incitam os instintos primitivos. O flerte virou pegação e o pegar na mão deu lugar ao "pegar o que der” com a mão....

Já não se dança para se alegrar, para isso existem a bebida e outras coisas menos lícitas, a dança agora é para seduzir e ser seduzida, tudo num apelo sexual de fazer corar até mesmo o Marques de Sade.

Qualquer canto escuro serve para a bolinação, qualquer boca é vista como mercadoria a ser provada e consumida sem o menor pudor. Cada boca aprisiona-se e liberta-se de outras tantas bocas ávidas pelo recorde pessoal ou grupal de uma única noite de balada.

Foi-se o encanto, foi-se a conversa, foi-se o conhecer e reconhecer. Hoje o conhecer, quer saibam ou não, resume-se ao sentido bíblico...” e conheceu Adão à sua mulher”...

Mas, o mais assustador é que a sociedade sofre dos sintomas, mas, não reconhece a doença.

Estupros, agressões, mortes, abortos...Muitas vezes começam em uma balada, em uma (nada) inocente exibição de sensualidade quase que explícita.

Antigamente isso não se chamava baile, chamava-se Festim, reuniões dos adoradores de Baco, onde tudo era permitido e ninguém era de ninguém. O resultado disso tudo nós todos conhecemos:

A queda de um dos maiores impérios da história.

Não se iludam, nossa sociedade caminha para uma Roma moderna, com todos os seus vícios e um pouco mais.

Tornamo-nos vampiros parasitando emoções precoces e, precocemente, buscando outras tantas.

Parasitamos e somos “parasitados” em nossos sentimentos confusos e desconexos.

Saudades dos tempos em que os bailes eram apenas bailes, e nada mais.