Minha verdadeira Casa

Nesse lugar que me encontro – minha verdadeira casa – sinto que dentro de mim está o universo, porque eu Sou o universo também. Sinto que, apesar de externamente eu ser, aparentemente, insignificante, toda a extensão do meu ser é incomensurável, mas totalmente palpável, se eu me adentrar em mim mesmo, pois, ainda que aparentemente – e na pífia carne – seja eu nada, em essência, Sou tudo.

Sou tudo porque, também, sou o nada da aparência – porque tudo que é externo a mim não é real; pois a realidade é o que sinto...

Nesse pacato lugar, cujas montanhas parecem abraçar-me, sinto que sou parte de um projeto, mas que Sou o projeto inteiro também, a construir-me.

Os delírios do que não sou, as ilusões do cotidiano, a busca incessante pelas coisas frívolas – que não preenchem o meu estômago anímico – aos poucos, nesse lugar, em concentração, vão esvaindo-se. E, dentro de mim, enxergo o quão profundo eu Sou, ainda que seja, no momento, tão raso perante mim mesmo.

Deveras, essa é minha verdadeira casa. Não pelo que penso, mas pelo que interiorizo. O que eu penso não é minha casa; não é a coisa. Não é a dor que eu sinto; não é a ramificação do vazio que, às vezes, bate à porta da minha outra casa, sem educação; E eu, inebriado, forço-o para dentro. Porque nada disso é real. O que é real me escapa, mas só às vezes; porque aqui, dentro de casa, eu sinto que eu sou nada mais, nada menos, do que Sou.

Sou “forçado”, por mim mesmo, muitas vezes, a aventurar tudo aquilo que só me fará sofrer e pesar, porque não preenche sequer a decência do próprio pensamento. Mas eu repito: Isso não é o que eu Sou. Aqui, deveras, todos os fantasmas (pensamentos) que querem, ao mesmo tempo, ditar como devo agir, não existem; aqui estou vazio e profundamente cheio. Cheio não das ideias, dos devaneios; mas de mim. E é bom estar cheio de mim. Porque o que eu Sou é o universo, com todas suas perfeitas características – com seus planetas, suas árvores, seus rios, suas belezas... Não as belezas dos olhos, mas as do meu peito. Aquelas, que eu carrego – aqui – o tempo todo, mas que desconheço muita vez, porque vivem ociosas e ardentes de minha atenção. Essas belezas que, à noite, após toda a agitação de um dia de furor, saem de traz da cortina e dizem: Não, antes de irdes dormir, terás de me buscar, porque eu necessito de ti, da mesma forma que tu necessitas de mim, mesmo que não tenhas, ainda, consciência do que buscas...

Sinto que, em minha verdadeira casa, o que eu Sou é muito mais do que penso de mim.