O Esquecimento é Branco?
 
 
               Sentada diante da tela branca, a espera que as palavras resolvam vir em meu socorro, fico pensando sobre a cor branca. Cor da paz. Das noivas. Da pureza. Da Inocência.  Não quero, aliás, não posso perder tempo em considerações sobre a cor branca. Não é sobre ela que preciso escrever, mas como a inspiração, que parece não ter cor, fugiu, fiquei aqui pensando em por que quando esquecemos as coisas dizemos que “deu um branco”.

               Não faz sentido, pois a cor branca é a junção de todas as cores, neste caso, deveríamos ficar inundados de ideias e não com cara de paisagem a espera do socorro, em forma de inspiração. Neste caso específico dar o branco significa um vazio que desalenta, exaspera e nos deixa “ocos”.  Este texto pretendia falar exatamente sobre o “Deu branco” que nos acomete nos momentos mais inusitados.

               Quem já não passou o vexame diante daquela pessoa que lhe cumprimenta efusivamente, com ares de amiga de toda vida, não lembrar seu nome? Quem, diante de uma prova não foi visitada pelo temido branco? E a senha do banco que se esconde em algum lugar que nenhuma cor a localiza? Eu, por exemplo, já esqueci meu nome e, na hora de assinar a lista, coloquei outro nome qualquer (deu um branco agora e não lembro que nome coloquei, mas não foi o meu).


               Estou, paradoxalmente, acometida da síndrome do “deu o branco” e verborrágica. Ideias desconexas saltam de minha mente, é como se um dique houvesse se rompido, mas ao mesmo tempo não conseguisse fazer escoar, pelo rio do pensamento, uma frase contextualizada, uma ideia com começo, meio e fim.

               Enquanto a enxurrada desce rio abaixo o teclado testa-me a cada palavra não escrita, frases incompletas parecem zombar de minha incapacidade criativa.  Resisto. Não posso desistir, tenho que continuar, mas continuo enfrentando forças desconhecidas que insistem em frear meu pensamento.

               Os dedos deslizam pelo teclado, mas a mão, apesar da velocidade com que dedilha as teclas, parece afundar, com força, no desconhecido mar do branco total radiante, que limpa, mas não perfuma, pois, deixa em pânico minha mente vazia de palavras significantes.
    
               A esperança começa a se recolher, os dedos, a mão e o pensamento estão sincronizados no doloroso ato de não escrever. A mente teima em buscar as palavras que o vocabulário continua negando. O sofrimento passa a ser físico. O pescoço dói, as costas sofrem, mas não posso e não quero mais adiar o prazer de escrever.

               Entretanto a palavra se nega a desvelar-se, o branco não permite a passagem daquela fagulha chamada insight, àquela faísca, tão forte quanto um relâmpago, que dá luz a coisa, a criação de um texto onde tudo se encaixa e você, pai da obra, suspira e diz: consegui!

               Diante de mim a tela, antes branca e sem vida, traz à tona meu desespero, registro de meu ato falho. Imploro: por favor, não agora que preciso tanto da escrita, não me falte. Preciso, tenho que continuar! Não posso... (não adianta, deu o branco...)


 
Este texto faz parte do Exercício Criativo - 
Deu Um Branco. Saiba mais, conheça os outros textos
http://encantodasletras.50webs.com/deuumbranco.htm
Ângela M Rodrigues O P Gurgel
Enviado por Ângela M Rodrigues O P Gurgel em 13/07/2015
Reeditado em 13/07/2015
Código do texto: T5309343
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.