Prisioneiros da Liberdade

Tão falso quanto as próprias falsidades podem parecer estas palavras, pois ambas são materializadas em igual tom, que sujeitas aos embrulhos de nossas viagens e topadas pelos caminhos, seguem riscando o vento aquém dos abstratos da realidade, e além das certas incertezas da existência.

Me dirijo àqueles que fingem ler assim como eu, não como humano, não como ser vivo, mas como ser vazio. Ser Vazio cheio de espaços nos espaços vazios cheio de seres.

Não sei de nada, e isto eu sei. Porquê?

E mesmo se soubesse, tecendo longos ensaios sobre deuses e mundos perdidos, que vieram a se fundir em memórias cósmicas, passaria a deixar de saber o que não sei quando eu nada sabia.

A potencialidade do ser não precisa ser conquistada, e muito menos merecida, já que é um artifício comum a tudo que é. Confunde-se a mente dos vencedores com a vitória em si, e deste modo tentamos buscar fora o que dentro sempre esteve.

Talvez, seja exatamente não exato.

Ou Como já dito, e corriqueiramente parafraseia comentários tolos, há mais coisas nas coisas do que nossos conhecimentos podem coisar. E sem dúvida, já duvidando, logo em seguida observa-se uma tendência às certezas, não é certo?

Deem-me a chave das verdades,

Que faço das infinitas portas uma única fechadura.

Ao qual, reservo o segredo à minha carência,

E exponho ao capacho visitantes admirados.

Parece ser esse poema, a arché das instituições auto instituídas, guiadas pelos efeitos dos vícios de ordem e sustentada por psicopatas sociais, que influenciaram meu visto vocabulário pseudo-acadêmico assim como os valores que reduziram-nos a tímidos cidadãos aberrantes. Preocupados com superficialidades materiais e fingimentos afetuosos, comparecendo em fachada -pois temos angústia de quem nos tornamos- à lúgubre cultura violenta que alimenta-se através de uma despercebida educação doutrinante.

Eis prisioneiros da liberdade, a sede daqueles outros aprisionados em mesmices e requintados traços de orgulho, que por migalhas tateiam os porões das celas, a fim de nutrirem em voraz temor o que chamam de templo. Estes, mal perguntam-se pelo que aguardamos, e enquanto o são, apenas vagueiam por onde lhes for permitido.

Nem posso descrever a terrível sina que é vê-los desse jeito, e incapaz de ajudá-los, vou regurgitando pedaços de mim aos poucos. Como também aos poucos, percebo que sou tão preso quanto eles e quanto pensava que podia ser. E agora a visão dos miseráveis vai escapando por entre os inconscientes âmbitos mórficos até vislumbrar um reflexo.

O grande e simples reflexo total, aonde os limites desencontram-se com os portões do firmamento e tudo é uno com o impensável. Ali nada não existe, visto que tudo julgado conhecível é possível fruto desse fenômeno real.