"DAS DORES" E DAS ENCHENTES

Choveu toda a noite. Luis acorda preocupado. O pátio da pequena casa está totalmente inundado. A esposa e os três filhos dormem. Toma um gole de café preto e sai apressado, vai para o emprego novo, Ajudante de pedreiro, na Capital. No ônibus apertado, pensa na segurança da família e tem medo de novas enchentes.

"Das Dores" acorda e procura os chinelos, que encontra boiando embaixo da cama. A chuva continua e a agua adentrou-se pela casa. Assustada, acorda os meninos que permanecem encima das camas. Separa algumas roupas das poucas que sobraram secas, junta mamadeiras e algum alimento. Pensa em seus filhos ainda tão pequenos e teme a força da agua.

A tristeza e a desolação tomam conta da dona-de-casa que prepara-se para abandonar a sua casa, seus pertences, suas flores quase mortas afogadas e o único cachorro, que nesta hora faz jus ao nome que as crianças lhe deram: "molhado".

Meio dia. O barco chega para retirar a família flagelada. A agua cobre os joelhos da mãe que sobe na embarcação segurando o bebê, José, que na inocência de seu primeiro aninho sorri para o barqueiro, logo a seguir entra e filho mais velho João de sete anos.

"Das Dores" instala-se com mais um filho e uma trouxa, no fundo da velha embarcação.

Através das lágrimas ela vê o que parece ser uma ilha, a sua casa, rodeada de agua por todos os lados. O silencio é quebrado apenas pelo latido de "molhado" que permanece de guarda, sobre uma mesa, no chalezinho abandonado. João chora, talvez sua primeira perda e "Das Dores" pensa em quantas perdas ainda virão....

CEIÇA
Enviado por CEIÇA em 18/07/2015
Reeditado em 19/11/2023
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