A sina de uma porta

São quase treze horas. Encontro-me numa sala a espera daqueles que ainda não compareceram para votar favorável ou contra a permanência do atual assessor no cargo. Mais ou menos cinquenta por cento ainda não deu sinal de vida. Vez por outra, o silêncio é quebrado pelo lamento de uma porta de vidro, que contribui com o frescor proporcionado pelo ar condicionado da sala. Lá fora um calor danado! Coitada! Parece tão exausta deste abre e fecha, abre e fecha... Implora por socorro sempre que uma mão apressada a toca sem compaixão, empurrando-a sem a menor cerimônia. Dá pena ouvi-la chorando tão sentida com seu zumbido que atinge agressivamente os ouvidos de quem se encontra por perto. Engraçado... Porta tem uma missão complicada! Ela tem o poder de permitir ou impedir o ingresso ou a saída de alguém. Quantas vezes pessoas se sentiram privadas graças ao gesto brusco e insensível de uma porta cruel! Quantas vezes me vi impedido por uma estúpida porta, que se acha poderosa, que se sente no dever de selecionar quem pode ou não passar por ela.

Além disso, quantos são impedidos de caminhar livremente graças a uma maldita porta! Não são poucas as que se recusam a dar passagem a homens ou a mulheres que sonham em abandonar o mundinho onde se escondem, mas barrados por essa cruel estraga prazeres, acabem por se conformar! E ela, insensível, não liga para os lamentos daquele que não ousa sequer desafiá-la.

Sobre as portas há ainda muito mais: Além das que são visíveis, de madeira, de ferro de vidro como a chorona a minha frente, existem aquelas que não se deixa enxergar, mas que podem torturar muito mais o ser humano. A essas podemos definir: porta cultural, porta da religião, do trabalho, da ganância, enfim, de tudo que nos impede de seguir livremente pelos caminhos confusos que a vida apresenta.

Tudo isso nos traz a seguinte reflexão: Afinal o que seria melhor? Uma vida repleta de portas fechadas ou a ausência delas? Entendo que nem uma coisa nem outra. Às vezes elas são úteis, por nos proteger de alguma armadilha da vida; às vezes, nos impedem de seguir nosso caminho livremente, aprendendo com erros e acertos.

Na verdade, essa é a missão de uma porta: impedir ou permitir o ingresso ao céu ou ao inferno. Então... o que se deve fazer com as portas?

Valviega, 27/05/2011.

Valviega
Enviado por Valviega em 19/07/2015
Reeditado em 09/11/2016
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