NOSSO LADO B

Na época áurea do vinil (os discos tipo bolachão) as canções com maior potencial para virarem sucesso, ficavam no lado A, enquanto as outras, de menos destaque, compunham normalmente o lado B. Isso ocorria especialmente com os compactos, que apresentavam, com poucas exceções, uma única música de cada lado do disco.

As músicas do lado A eram amplamente divulgadas, executadas praticamente em todas as rádios comerciais e como a internet não fazia parte nem mesmo dos nossos sonhos, só as pessoas que adquiriam o disco é que conheciam as canções do lado B. Alguém se lembra do lado B daquele compacto do Kid Abelha & os Abóboras Selvagens, que trazia o sucesso Pintura Íntima, no seu lado A?

As pessoas são como os vinis, pois mostram o seu melhor aos outros, numa espécie de lado A, e tentam esconder o pior da sua personalidade, no chamado lado sombrio, ou para amenizar, lado B.

Quando a convivência, por ocasião do relacionamento afetivo ou profissional, faz-se diária, passamos a conhecer-lhes os maus hábitos, as fraquezas e inseguranças e suas imperfeições morais.

Em geral, conseguimos nos acostumar e até se adaptar ao lado B dos indivíduos com os quais convivemos. Entretanto, há casos em que tal convivência se torna impossível, sob pena de colocarmos em risco nossa saúde física e mental.

Também não é nada incomum que, graças ao sentimento de orgulho, optemos por ignorar o nosso próprio lado B, afinal é deveras desagradável possuir um lado do qual ninguém vai apreciar.

O alento aqui é que, diferentemente do que ocorria com os discos de vinil, com trabalho e força de vontade, nós podemos ir melhorando o nosso lado B, porque felizmente, nosso repertório de ações e sentimentos não se encontram esgotados.

Então deixe a preguiça de lado e comece agora mesmo a rearranjar as faixas do seu lado B.

Ah, se você ficou curioso: Por Que Não Eu? foi a canção que preencheu o lado B do primeiro compacto do Kid Abelha. E aí, lembrou?