FREQÜENTAR SEBOS...

Eu não saberia viver sem que os sebos fossem minha 2ª casa. Aprendi na época da faculdade de Letras a tomar gosto pela leitura de poemas com meu professor e poeta exemplar: Augusto Massi. Então desde o começo da década eu comecei a procurar livros de poesias nos sebos aqui de São Paulo, nunca fui muito de ir às livrarias, porque nelas existem muito do que está na "moda" e não o que realmente pode me satisfazer. Nos sebos encontrei obras de inúmeros poetas da Língua Portuguesa e que são meus companheiros para leituras e para aprendizados poéticos. Devo ter em casa mais de duas centenas de livros poemas, boa parte são obras completas, em Língua Portuguesa comprados nos sebos (fico horas seguidas lendo-os); sei que ainda é pouco (garimpando com paciência posso aumentar em muito meus livros de poesias) de autores sempre lidos, de autores conhecidos, porém, pouco lidos e de grandes autores esquecidos que merecem uma releitura da crítica literária.

A realidade dos sebos possibilita-nos adquirir livros de poetas conhecidos com um preço mais acessível à compra e autores menos conhecidos, com grande talento, podem ser desfrutados por preços bem em conta! Tenhamos a certeza de que não necessariamente o autor menos conhecido é menos valoroso do que o conhecido, muitas vezes o modismo de uma época (a escola literária) ofusca autores que não se enquadram nela e exalta autores menos valiosos.

Não posso negar... Sempre que recebo meu salário tenho aquela vontade de comprar livros de poesias em sebos e nessas andanças pelo centro de São Paulo começo a aumentar, cada dia mais, o volume de livros de poesias em minha casa. Nos sebos encontramos desde as obras completas em dois volumes de Jorge de Lima até o livro de poemas: "A Voz do Grande Rio" de Rossini Camargo Guarnieri que é uma maravilha. Tudo é uma questão de sentar no banquinho e ler uma parte de cada livro e selecionar alguns para levar para casa, além de quando tivermos sorte, levar as obras completas de algum grande poeta brasileiro que ainda não a possuímos.

Uma constatação nas andanças pelos sebos daqui de São Paulo: muitas bibliotecas de poesias foram desfeitas, na morte do colecionador, e vendidas a preço de "banana" por familiares, nos sebos do centro da cidade onde eu freqüento; é uma pena, ver aqueles livros de capa dura e frisos dourados, que algum apreciador de poesias colecionava (o colecionador tem costume de carimbar seu nome na capa dos livros que possui), com autógrafo do poeta, nas prateleiras dos sebos. Todavia, para nós que curtimos ler poemas é uma maravilha! O preço é sempre acessível e tem um valor inestimável comprar as edições dos autores clássicos na grafia original da época de seu lançamento.

Algumas vezes, a correção da ortografia, muito comum nas edições de poetas clássicos de nossa língua compradas em livrarias faz o poema perder sua musicalidade, sua rima, sua metrificação. Não me recordo agora o nome dele, porém, em um poema de Machado de Assis existe a palavra cálix que é utilizada como rima consoante em um de seus versos, na atualização da ortografia para as normas atuais de escrita da Língua Portuguesa colocou-se cálice ao invés de cálix, não fica nada interessante essa modificação, pois, a palavra cálix era paroxítona e cálice é proparoxítona. Imaginem o erro que pode ocorrer em um poema quando não nos atemos para este detalhe ocorrido em uma das modificações ortográficas pela qual a Língua Portuguesa passou.

Enfim, ir aos sebos, penso eu, ser obrigatoriedade para todos que cultivam o prazer da leitura e muito mais obrigatório ainda para aqueles que querem seguir a carreira de escritor. Sem a busca de identidades poéticas, sem lermos poetas clássicos, dificilmente aprenderemos a fórmula (que pode ser particular, somente nossa) da boa poesia. Não tenho pretensão de me profissionalizar na área das Letras, entretanto, gosto de ler bons poetas e de aprender com eles caminhos para poder realizar da melhor maneira possível, mesmo que de maneira simples e amadora, meus escritos. A ida nos sebos facilita, em muito, a aquisição, por preços mais acessíveis, de livros de poesia, hoje tão pouco vendidos nas livrarias do país, na maioria delas nem a seção de poesias existe, não é verdade?

Alexandre Tambelli
Enviado por Alexandre Tambelli em 19/06/2007
Reeditado em 06/04/2008
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