O Surdo-Mudo
 
Leitores, se tem uma coisa que me desperta o riso e a raiva é o pedinte profissional.
Desde que eu vim morar em Fortaleza, há quase vinte anos, tem uma mulher que pede esmola no Terminal da Parangaba com um bebê no braço. Dá vontade de perguntar "minha senhora, seu filho não cresce não?"
Tinha um, deficiente das pernas, que jogava era praga: "Me ajudem que ninguém sabe o dia de amanhã, talvez um de vocês venha a estar no meu lugar."

O modus operandi tendência é o cabra subir no ônibus e dizer que acabou de sair do IPPS, já dando a entender que é perigoso,que precisa de tanto para comprar a passagem de volta para casa. Só vejo as bolsas se abrindo.
Eu? Dou nada! Já trabalhei um tempo com moradores de rua e sei distinguir mais ou menos os malas dos necessitados mas ainda caio em golpes. O que eu dou é informação precisa, onde podem conseguir ajuda governamental, tirar documentos, as casas de apoio ao povo de rua, como os deficientes se aposentarem, etc. Como não é isso que eles querem é mesmo que nada.
Teve um dia que eu dei muita risada, um bebinho entrou no ônibus e começou a chorar dizendo que há três dias estava sem comer. Todo mundo ajudou, muito solidário. Quando o bêbo se viu com dinheiro na mão disse "Eita, hoje eu tou rico! Quero uma mulher!" E passou examinando cada uma das passageiras: "muito feia; muito velha; Olhou pra mim: muito alta."
As outras mulheres se indignaram, começaram a tacar as bolsas no bêbo, o gaiato saiu de dentro do coletivo a pontapés.
Mas também tem aqueles que me aborrecem, como uma sujeita no Terminal da Parangaba que primeiro passou pedindo esmola com um cadeirante e dias depois lá estava ela de novo, com a foto de uma criança que, segundo ela, precisava tomar determinado leite. Eu disse "minha filha, vem cá: tu é carteira assinada ou ganha comissão?" É muito difícil mas às vezes eu sou bruta.

Apois. Anteontem eu estava na rodoviária com o pai quando chegou um sabido distribuindo papeizinhos. Pra começar eu tenho abuso de quem pede se utilizando de bilhetinhos porque a preguiça é grande demais até para falar.  Dei um golpe de vista no sujeito que ele se arrupiou mas o pai, que tem um coração enorme, leu o papel aonde o criatura escrevera "sou surdo-mudo, peço uma ajuda de dois reais."
O pai pegou, trocou o dinheiro no quiosque e perguntou "um real serve?", estendendo a moeda.
Oh, rapaz. Pra que. O mudinho se enfezou, ficou num gungunzado medonho e fazendo sinal de dois com os dedos. Acreditem, o mala só aceitava esmola de dois reais pra cima!
O pai deu a cédula, se sentou, conversou mas eu conheço Zezão, o véi ficou contrariado. De longe a gente avistada o sms (surdo-mudo-sabido) entregando papéis e fazendo sinal de dois. Quanto mais o pai via, mais mordido ficava.

Quando foi ontem eu liguei lá pra casa e o pai disse "Verinha, eu não me esqueci mais de como eu fui otário ontem, dando meus dois reais praquele cabra sem-vergonha! Mas tem nada não, essa ficou por caçula, ademais, muito mais o bicho leva" (referindo-se ao jogo do bicho).
Srta Vera
Enviado por Srta Vera em 28/07/2015
Reeditado em 28/07/2015
Código do texto: T5326650
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