TABOCA RARA

Se há uma cidade pernambucana com uma história marcante e em certos aspectos hilária, essa cidade é Pesqueira. Vou tentar reproduizir um causo contado num dos seus livros por Nelson Barbalho, "Caboclos do Urubá", perdi o dando desse livro numa mudança. Mas vou tentar recontar o causo de memória.

Aconteceu nos anos vinte. O Major Alfredo Bezerra Cavalcanti era coletor federal, um dos pilares da comunidade, um sujeito afável, sério e sua palavra era um tiro. Mas, por outro lado, devido a sua militância política fizera vários inimigos. Esse major possía uma mania: colecionar objetos que de alguma forma tivesse feito algum mal a seus inimigos políticos, tesoura, peixeira, prego e diabo a quatro. Comprava esses troféus a peso de ouro.

Um dia um adversário dele, um tal Oliveira, resolveu provocá-lo soltando um foguetão na direção da casa do major. Soltou, mas o foguetão deu um efeito contrário e estourou na mão do Oliveira, arrancando-lhe uns dois ou três dedos. Um moleque de rua viu a cena e na hora que nem caldo de cana ciorreu e apanhou a taboca do foguetão, e correu para a casa do major.

Lá chegando bateu palmas e chamou pelo dono da casa. O Major saiu e o menino com a taboca na mão disse: "Oli, Sêo Major, eu trouxe essa taboquinha para lhe vender". O major retrucou rindo: "Mas, menino, pra que é que eu vou querer uma taboca que anão serve para nada?". O moleque então abriu o jogo: "Maizi, major, essa taboca é muito valiosa pro sinhô, foi do foguetão que Sêo Olivera soltou pra mode ispludir na sua casa, maizi o feitiço virô contra o feiticêro e ispludiu na mão dele e arrancou três dedaão do home". O Major se interessou, botou os olhos na tabca, e perguntou: "E você vende essa taboca por quanto, esse meino?". O moleque disse: "Vendo ao sinhô por dez tões". O major pagou, pegou com muito cuidado a taboca e então disse ao menino: "Olhe, esse menino, você não soube pedir, essa taboca é rara, é uma relíquia, arrancou os dedos daquele fela da puta safado, valia mais cde cem mil réis, se você tivesse pedido eu teria dado".

Esse Major depois disso protagonizou outro fato hilário, o irmão dele, Leonardo Bezerra Cavalcanti, um cara que se distinguiu na política da região, virou a casaca para Dantas Barreto. Resultado, o major botou luto fechado pelo irmão. Para ele era como seu houvesse morrido.

Era outro tempo. Um tempo em que os homens tinham mais palavra e havia muito mais humor.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 28/07/2015
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