Papel Carbono

Você nunca vai ser um Donald Trump (ainda bem!) – candidato ao governo dos EUA sob uma plataforma partidária fundamentada na segregação social; nunca vai ser um Saramago; uma Isabel Allende; um Castro Alves. Não importa a fortuna que não amealhe, o que escreva, ou o que encalhe. Embora tudo possa acontecer. Num concurso de que participou, como conta Alice Ruiz, Leminski ficou com uma menção honrosa. Só que dos vencedores do concurso ninguém teve depois a consagração que teve o aplaudido poeta curitibano.

Mas o pontinho que você será no mundo há de ser da maior importância na engrenagem invisível do planeta. Nas empresas que presidir, ou em que trabalhar como um mero funcionário, na literatura que produzir, no esporte que praticar. Até ser esquecido, como todos. O que é inevitável. Ou ser lembrado pelo nome de uma avenida, um viaduto, um hotel cinco estrelas, um hospital de referência ou uma escola municipal.

A primeira importância a ser consagrada em nossas vidas, ainda que sobre isso não reflitamos, deve dizer respeito a nós mesmos. Costumamos levar uma vida sem muito respeito às nossas próprias afetividades. Somos às vezes negligentes com a própria saúde, física ou espiritual, com a do próximo (isso nem se fala), com o meio ambiente, com o que dizemos, com o que escutamos, com o que acreditamos e com qualquer tipo de treinamento.

Tudo isso é compreensível, permitido e até saudável. Desde que estejam traduzidos por caracteres que possamos distinguir ao longo da existência. E desse modo proceder às correções que julgarmos necessárias.

Isso nos torna iguaizinhos às personalidades que inocuamente tenhamos a pretensão de ter como espelho. Pois tais pessoas são de carne e osso também. E sangue azul ninguém tem.

O maravilhoso Renoir, pintor dos mais célebres, morreu deformado pela artrite reumatoide, no tempo em que essa incurável doença não tinha o tratamento que tem hoje. Mas se hoje a artrite pode ser combatida, embora não vencida, há doenças raras que aparecem todo dia. E que a medicina, apesar de todo o avanço, ainda não consegue combater com eficácia.

Jorge Paulo Lemann, considerado o empresário mais bem sucedido do Brasil, quase teve um de seus familiares sequestrados, o que no caso dele é uma ameaça permanente. Igualzinho a você, cujos cartões de crédito podem sempre interessar a alguém numa saidinha de banco. Você nunca vai ser um J. P. Lemann, mas pode estar sujeito à mesma chuva que cai do céu. Cada um aqui na terra com o seu papel. Cujo melhor desempenho possível pode ser interessante buscarmos com insistência. O resto é sobrevivência.

Rio, 29/07/2015

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 30/07/2015
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