O INSUPORTÁVEL PESO DE UM ARREPENDIMENTO

Algumas vezes me pego pensando em como a vida pode ser traiçoeira e irônica ao mesmo tempo; como é possível conhecer alguém de forma tão arrebatadora para, em seguida, perdê-la para a vontade do destino? Mesmo sabendo a máxima de que o destino nos pertence – porque temos a dito livre arbítrio – não compreendo as razões pelas quais a vida nos prega esse tipo de peça.

E digo mais, como é possível conhecer alguém que, não apenas na superfície, como também na essência, é extremamente parecido com você, com os mesmos gostos, mesmos hábitos, mesmos vícios …, enfim quase um idêntico e, em um curtíssimo espaço de tempo, perdê-la para sempre!

Foi uma tempestade de palavras, insinuações, desejos, promessas, delírios, sensualidade, que não resistiu por muito mais tempo. Conhecendo alguém, encontrando-a apenas uma vez, às pressas …, um sorriso …, um abraço …, beijos sôfregos …, e, depois …, a separação …

O que restou foi um gosto de quero mais; uma vontade quase incontrolável de jogar tudo para cima e correr atrás dela e dizer-lhe que, depois de conhecê-la, nada mais e ninguém mais teria importância …, e foi isso que aconteceu! Não …, nada disso aconteceu.

Restou apenas uma tristeza profunda e um vazio destituído de sentido. Nada mais tinha uma razão de ser, e viver tornou-se um pequeno martírio com os tons cinza de um cotidiano modorrento, o odor mofado das repetições incessantes de uma rotina esmagadora, os sons ocos de um coração que exorbitava abandono e a ausência de vontade de fazer qualquer coisa.

Estava eu experimentando um gosto amargo em minha boca e uma náusea que revirava meu estômago, impondo-me um desconforto que parecia ser eterno e que assim seria, porque eu não tive coragem de tomar uma atitude. Puro arrependimento por ter sido um covarde com meus próprios sentimentos. Um arrependimento que não tem cura.

Quando penso nela …, pode parecer estranho, mas isso ameniza os efeitos da minha covardia ignóbil. Olhar as poucas fotos que tenho dela fazem meu coração bater mais forte, ao mesmo tempo em que fazem a dor de minha alma tornar-se insuportável. Não que exista apenas desejo de tê-la, de possuí-la com todas as forças do meu ser; é algo maior, algo que transcende aos limites da minha existência.

Como é possível negar uma pessoa que pensa como você, que tem os mesmos gostos, os mesmos desejos, a mesma vontade insaciável de viver cada minuto, não como se fosse o último, mas sim como se fosse o primeiro do resto de nossas vidas. Estar com ela para assistir a um filme em preto e branco dos anos quarenta (“O Falcão Maltês”, por exemplo); sentar-me ao seu lado no sofá, provocando-a com beijos e carícias. Chegar em casa, após um dia estafante de trabalho, e ser recebido por ela, vestindo apenas uma lingerie que ela comprara pensando em mim.

Deitar-me ao seu lado e ficar apenas olhando para seu rosto lindo e saboreando seu sorriso angelical e seus olhos brilhantes e repletos de vida. Beijar seus pés e massagear suas costas. Ouvi-la dizer que me ama, enquanto eu também digo que a amo …, tudo isso e muito mais …

Passar as tardes de domingo plantando begônias, e depois, com as mãos sujas de terra, abraçá-la enquanto ela tenta me servir um suco refrescante. E depois de tudo isso, acordar todas as manhãs com seu sorriso lindo me dizendo bom dia … tudo isso se foi …

Se me arrependo? Mortalmente, pois jamais serei o mesmo depois de ver seu rosto iluminado pelo sol, seus cabelos ao vento e seu corpo gingando apenas para mim.

Se voltaremos a nos reencontrar? Sinceramente, eu não sei …, embora não tenha forças para acreditar que alguém que foi rechaçado, repelido covardemente, possa querer voltar e tentar outra vez. Tenha vergonha do que me tornei, vazio, sem sentido e despido de sentimentos. Não vivo mais, apenas deixo que a vida perpasse por mim …, deixando seu sorriso lacônico e escárnio pela insustentável dor de saber que nunca mais serei o mesmo depois de conhecer a mulher de minha vida.