A foto hoje em dia

Tem uma coisa que acho curiosa dos novos tempos.

Eu gosto muito de fotos. Gosto de ver uma imagem com cores vibrantes, nítida, um bom enquadramento. Mas vamos deixar o enquadramento de lado, afinal, nem todos tem essa noção. Fiquemos com a nitidez, cores vibrantes. Gosto de ver algo assim, me chama atenção.

Lembro da febre das máquinas digitais. A primeira que eu manuseei foi uma Sony em 2002 - e eu usava um disquete (acreditem!) para armazenar as fotos. Era só encaixá-lo na própria máquina e as fotos eram arquivadas nele. Meus amigos piravam. Eu ia para as festas e fazia um monte de registro. Às vezes, as pessoas diziam: "Me manda depois as fotos por e-mail". E se eram só fotos da pessoa, eu dizia: "Posso te dar o disquete agora com todas as fotos". Nossa, eu parecia um mágico que estava tirando um coelho da cartola.

Depois a parada foi evoluindo. Larguei a do disquete porque minha mãe trouxe uma digital dos Estados Unidos. A marca era Vivitar. E eu achava a qualidade ótima. Acho que era uma máquina de 5 MB. Até filmava, mas não tinha som. A do disquete fazia apenas uma sequência de quadros. E logo vieram as máquinas que filmavam pra valer, com áudio, tudo como deve ser. Nova piração. "Nossa, uma máquina que tira foto e ainda filma". O paraíso estava em nossas mãos. A moçada pirava por ter uma máquina de 10, 12, 14 MB. Sendo que as fotos só eram pra serem usadas na Internet. Ou seja, uma de 5 tava muito bom. Mas ter o último lançamento era o boom do momento. Nem que fosse só para dizer: "Tenho uma de 15 MB".

Pois bem, vou encurtar o papo. O que acontece hoje? De uns tempos pra cá, o celular ganhou um espaço muito maior na vida do indivíduo. "Nossa, que legal ter um aparelho que liga, acessa Internet, tira foto, grava vídeo, etc" - todos pensam isso. Todos querem tudo em um único aparelho. Você tira a foto e já dispara nas redes sociais para esperar aquelas curtidas espertas. Ninguém mais imprime ou revela.

Aí vem o que eu gostaria de falar. O que vejo de fotos tenebrosas circularem pela Internet. Pixeladas, escuras, cores desbotadas... Opacas. Sempre digo que foto de celular não tem qualidade. Talvez, algumas raras exceções sejam os iphones da vida, mas as que vejo, em geral, são bem ruins. Às vezes, vejo momentos ótimos que a pessoa está vivenciando e, putz, uma foto ruim como registro. Acho que estamos acostumando o nosso olhar com esse tipo de foto. Acho que caracteriza a instantaneidade dos novos tempos: "Ah, amanhã tem outro evento e eu tiro outras fotos".

Hoje você tira foto para circular pelas redes sociais. Ninguém tira foto para apreciar depois. Tudo vira motivo de registro - nem que seja esse registro capenga do qual estou falando.

Digo isso porque namorei uma fotógrafa que tinha mania de sair de casa com as suas câmeras enormes e fazia grandes registros dos nossos passeios, festas, etc. Depois dei uma máquina para ela menor que foi muito bem utilizada. E ela era a pessoa que registrava os eventos, meus shows. Hoje vejo as fotos e acho bem legal ter esses registros. Ótimos registros. Que, de vez em quando, encontro num HD externo, Cd, etc. Porque ninguém mais tem o hábito de revelar a foto para ver no álbum - o que acho uma pena, porque muita coisa se perde. Ou esquecemos mesmo, porque já estamos clicando uma outra novidade.

Tudo bem que na década de 80 você tinha que pensar muito antes de tirar uma foto para não gastar uma pose à toa (risos). Hoje você tira duzentas fotos para ver se você sai bem em alguma.

O que sei é que - mesmo depois que terminei com essa namorada - guardei esse vício por boas fotos. E voltei a usar minha câmera que amo - eu a comprei em 2007, depois de ficar um mês pesquisando lente, a que melhor cabia dentro do que eu queria. Até escolher uma Panosonic lumix de 7.2 MB que é ótima. Detalhe: ela é tão antiga que funciona com pilha. (risos) E sou zoado toda vez que a tiro da mochila para registrar algo. Porque ninguém mais usa máquina digital, pelo visto. Mas aceito a zoação, já que no final eu vou ter as melhores fotos, porque a bichinha me satisfaz. Não me decepciona. E ainda tem gente que diz: "Ah, mas aí não tenho como mandar pro grupo do whatsapp". Aí eu calmamente digo que tem sim. E tiro o cartão da máquina e ponho no meu celular e envio para a apessoa. O trabalho é maior. No entanto, a foto, por outro lado, também é bem melhor.

Isso é tão incrível que presto muita atenção nas pessoas que vão tirar foto ao fim de uma peça ou show. Uma vez terminei uma sessão de um musical infantil que eu fazia e fui tirar fotos com as crianças - tudo era celular. Só celular e celular. Mais tarde você vê aquelas fotos terríveis circulando na Internet. Você tem que apontar uma seta e colocar o nome de cada pessoa que está na foto. Porque, às vezes, é irreconhecível. A maioria das vezes sim.

Fotos de cel podem funcionar num dia de sol, ambiente bem iluminado. Aí até quebra um galho. Vale o registro. Agora algumas noturnas em ambientes fechados, pouco iluminado, não tem jeito, fica ruim. Alguns celulares tem flash, mas é diferente de uma câmera.

Sei que vou soar como fora de moda ao defender a máquina digital. Mas já fiz esse teste de tirar foto com o celular e com a minha digital - o mesmo objeto ou as mesmas pessoas no mesmo lugar. O resultado é: com a máquina digital fica bem melhor. Nem discuto isso. Então, deixem que me zoem, quero é ter as melhores fotos, sempre (risos).

Vale dizer que isso é uma opinião de quem curte foto. Sou bem leigo no aspecto técnico. Falo pela experiência com diversas máquinas. E apenas admiro uma boa foto. Sou tão desligado que fui ver recentemente que a minha tal máquina tinha a linguagem em português. Esse tempo todo eu via o menu da máquina em espanhol. Se minha máquina usasse a Internet eu diria que foi uma atualização do software. Minha ex que descobria também coisas interessantes nela, algum efeito bom, etc. Hoje voltei a fuçar sozinho e tenho até feito registros de paisagens e outras coisas. Tenho curtido. Apesar de não tirar 100 fotos para obter o melhor ângulo. Tento umas 4 vezes e torço para que uma tenha ficado boa.

Não tem jeito! Não abro mão da minha boa e velha máquina digital que funciona com pilha.

Enfim, desabafei. E vocês, o que acham?

Raul Franco
Enviado por Raul Franco em 03/08/2015
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