CONSTANTINO MARZULLO

CONSTANTINO MARZULLO

Nelson Marzullo Tangerini

Tenho, diante de mim, a foto do jovem Constantino Marzullo, morto na Guerra de 1914.

Um parente distante, tio de minhas primas Nicoletta Marzullo e Verônica Marzullo de Britto [filha de Nicoletta], Constantino acreditava que estava defendendo a “Dolce Italia”, a mesma Itália que, em processo de unificação – um sonho de Giuseppe Garibaldi -, esqueceu dos seus filhos do sul. Lembrou-se deles, calabreses e sicilianos, quando referida guerra estourou.

Outros Marzullos, porém, temendo perder seus filhos na guerra, resolveram “fazer o sonho da América” e, em duas levas, vir para o “Brasile”. Vieram com apenas a roupa do corpo, algumas malas, e seus filhos, muitos ainda no colo da mãe; vieram no porão do navio, cantando canções italianas, fiando sonhos de um futuro melhor para seus filhos.

Penso na dor da guerra, o retrato vivo da ignorância, da intolerância, da arrogância humana. Penso na separação familiar, no porto de Napoli, na separação da terra [Paola, no nosso caso], no adeus doloroso ao Tirreno mar azul.

Não havia opção para os jovens italianos. A pobreza reinava no sul da Itália, que os excluía. E a ausência do estado italiano fez com que o sul fosse dominado pela máfia, organização criminosa que dizimou milhares de italianos.

Orgulho tenho de minha família, desses Marzullo que disseram não à guerra, à pátria amarga e injusta. Admiro os desertores de consciência. Orgulho tenho deste jovem italiano, Constantino Marzullo, morto aos 16 anos, hoje esquecido pela história oficial.

O pobre Costantino Marzullo acreditava que a “Dolce Italia” lhe daria um futuro seguro aos jovens italianos, após tanta carnificina. Ledo engano. Morreu enganado, seduzido por uma farsa que levou muitos jovens à morte ou a tentar a vida em outras terras – distantes – em busca do sonho de paz e prosperidade.

Constantino morreu com a Itália em seu coração, a mesma Itália que vive dentro de mim, no meu sangue, nos meus sonhos, com suas canções, suas óperas, seus magníficos pintores: da Vinci, Raffaello, Caravaggio, Giotto, Tintoretto, entre tantos outros.

Há uma relação de amor e ódio, dentro do meu peito. E não adianta mais a Itália pedir perdão e lamentar ter perdido seus filhos para as Américas. Porque ganhamos o mundo, porque a vida teve que se reinventar para todos nós.

Nelson Marzullo Tangerini, 60 anos, é jornalista, escritor, poeta, compositor, fotógrafo, e professor de Língua Portuguesa e Literatura. É membro do Clube dos Escritores Piracicaba, onde ocupa a Cadeira 073, Nestor Tangerini, da ALB, Academia de Letras do Brasil, e da UBE, União Brasileira dos Escritores.

nmtangerini@yahoo.com.br