Minhas lamúrias
Eu nunca duvidei da existência de Deus. Apesar de desconfiar das histórias que a bíblia conta, sempre separei minha fé da minha razão. Até que a vida me fez entrelaçar os dois. Com a morte.
Foi nessa hora que meu coração se apertou e eu me perguntei se existia um Deus e se Ele seria tão impiedoso a ponto de levar embora uma pessoa tão boa e devastar tantos corações com a dor da perda.
Eu vi vários passarem por mim e acabarem dentro de um caixão, pálidos, sem vida. Como se a vida fosse uma flor, que um dia murcha, morre. Eu vi vários corações serem machucados e o meu também fora muitas vezes; e tantas vezes caminhei sobre as pedras para chegar ao local onde a pessoa estaria onde todos nós estaremos um dia: embaixo da terra.
Olhando aquele lugar tão verde e tão bonito, me perguntei quantos foram esquecidos ali, e quantos ainda iriam até lá. Quantos seriam levados até lá diante de uma marcha fúnebre e uma platéia infeliz que molha suas bochechas com a dor.
Novamente, a dor me machucou, me fez chorar, me fez cair. São nessas horas que eu duvido.
Duvido de que alguém teria a insensibilidade de levar as pessoas embora tão cedo. Alguém frio que regeria o mundo impiedosamente, apenas seguindo seu trabalho. Apenas selecionando as pessoas que seriam levadas uma a uma, completando o ciclo da vida, o ciclo que nos é imposto.
Não que tenhamos escolha.
Não podemos escolher o que fazer, pois acabaremos todos no mesmo lugar, do mesmo jeito: mortos.
E quem fica é quem tem que aguentar. Aguentar a devastação e dor. A impiedade e a solidão. A ferida e a culpa.
Culpa por não ter dito o que sentíamos ou o que pensávamos. Culpa por não ter dado um jeito de passar mais alguns minutos com aquela pessoa tão importante que se foi sem saber de nossos sentimentos.
A morte é tão repentina e banal quanto a vida. O que é significante mesmo é a dor.