A Cruz e o Inharé

Intempéries de letras e palavras entre o Agreste e o Seridó, no paquiderme norte-rio-grandense. Agreste e Seridó representados por Marcos e Marias. Era uma Quinta literária, quando e onde, a Cruz e o Inharé se encontraram. O inharé caboclo e primitivo, da proteção e das benzeduras, e a cruz que representa as rezas, os colonialismos, a importação das crenças, modos, motivos e comportamentos. Marcos históricos, e representações de Marias dos aparecimentos e das anunciações. O Inharé em frente à dualidade, o binômio da cruz e da espada.

Em meio a uma temperatura termo fisiologicamente agradável; mas por algumas vezes, uma bolsa de ar quente adentrava no espaço fechado, ao ser aberta a porta, constituída de areia derretida, sendo agora invisível, mas podendo ser tateada. A porta abria-se para que alguém pudesse adentrar. Entrar, e por alguns segundos visualizar o ambiente, e como um radar rastrear com um giro visual, na busca de uma cadeira para sentar, e participar das intempéries que ali precipitavam. Um aceno ou um gesto, poderia denunciar uma cadeira vazia, perdida entre outras cadeiras ocupadas. Ali acontecia algo, em um relato crônico e poético, entre a Santa Cruz do Inharé e os novos currais de seu Cipriano. Um acontecimento literário, mediado por um grupo de poetas vivos, ali liderado pelo homem trajando preto, portando uma garrafa cor de prata, com um conteúdo liquido ignorado, que dizem ser agua. A agua colhida de chuvas, contidas nos açudes, tratadas e canalizadas, até chegar nas torneiras das cidades.

Na taça transparente contendo água, e pousada sobre a mesa, minúsculas gotículas se formavam ao seu redor. Acontecia ali um fenômeno explicável. O fenômeno físico do ponto de orvalho, quando a temperatura da agua contida dentro da taça, provoca uma condensação no vapor d’água contido no ar atmosférico em sua volta. A medida que a oratória prosseguia alguns flashes de máquinas fotográficas relampejavam.

E discorreu-se sobre assuntos diversos e intermitentes, esparsos e isolados, com complementos claros ou sombreados; sujeitos a chuvas e trovoadas, de perguntas intensas e moderadas. O caminho da BR 226, entre o açude do Inharé e o açude Dourado. Solidão e Maniçoba; São Cristóvão, São Rafael e São Sebastião. Muitos assuntos coincidentes nos espaços geográficos, e nas palavras impressas, foram ali relatados e confrontados. Fenômenos atmosféricos e sociais foram contados.

Na plateia surgiu uma história de orvalhos, sobre o musico e o violão que ali estavam em tempos presentes. O nome dos peixes que um dia sobreviveram a uma enorme seca, acomodaram-se em poças remanescentes, dando condições a populações ribeirinhas sobrevirem da Valença ofertada.

No lado de dentro, um espaço iluminado, um relato místico e poético; a santa, o cruzeiro, a pedra, a serra, o navio; os rios, a seca e a enchente. Contos, políticas e fofocas urbanas com sabor de café, em balcões, mesas e esquinas. E o cruzeiro sobre um amontoado de rochas diversificadas, com respostas geológicas, religiosas e históricas injustificáveis, mas aceitáveis, até que outra resposta, mas convincente e conclusiva chegasse. Tal como as frentes frias, o clima e a opinião podem modificar rapidamente e nitidamente, com a sua chegada. Do lado de fora, da sala iluminada, o milagre. A agua em copos e taças, que se transformavam em vinho para comemorar o torrencial acontecimento. Um som com sete cordas, com falas, marcos, valências, e marias, ainda ecoava no ar.

E do lado de fora continuavam e prosseguiam os assuntos teístas e ateístas, gnósticos e agnósticos. A busca de uma teoria de filosofia, a reunião filosófica, debatendo e discutindo várias definições e teorias, de cultos e adorações, havia algo a mais no ar. Há muitas coisas ainda para descobrir e pensar, do jerimum sobre a terra ao mais alto jequitibá.

Situações kármicas e energéticas, arquétipos e carmonas, espraiaram-se pelas ruas, até uma parada na metade do caminho. Ainda há muitas areias por baixo dos asfaltos urbanos natalenses. Areias que foram pisadas por povos diversos. Areias que mudaram de posição com as chuvas, com as pegadas deixadas, e com o vento soprado do mar. E agora as energias emanam do solo, movimentando enormes aero geradores com pás de dimensões descomunais, provocando uma intensa captação de energia para quem fique na sua base, e a sua volta.

RN, 07/08/15

Texto disponível em:

http://www.publikador.com/cultura/maracaja/2015/08/a-cruz-e-o-inhare/

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http://www.publikador.com/cultura/maracaja/2015/08/a-cruz-e-o-inhare/