O MÍNIMO

Neste momento em que os brasileiros assistem muitas coisas pouco elogiáveis no cenário nacional, na entrevista do presidente do Bradesco Luiz Carlos Trabuco Cappi, logo após comprar o HSBC por um preço que o mercado considerou um pouco além da conta, este afirmou que "crises passam". O mais interessante na entrevista foi a tranquilidade de alguém que analisa o cenário pelo qual já passamos muitas vezes e diz com naturalidade "crises passam". Quando a entrevista terminou, os analistas da GloboNews comentaram "este já está do outro lado da crise".

Para os bancos parece não haver crise. Antes, falaríamos que a "agiotagem é imune a crises". O terreno, nestes casos, até pode ficar melhor.

Políticos e empresários andam sujos no cenário. Alguns dirão, mais sujos. Percebe-se, agora, com alguma clareza, que políticos roubam galinhas se compararmos aos roubos praticados pelos empresários. Que até dividem algumas merrecas. Sim, para os maiores empresários do país dezenas de milhões são merrecas. Sabemos agora de roubos bilionários e vimos comentários sobre os mesmos como se fossem rotinas.

Os políticos aparecem como criaturas com tão pouca serventia que até para roubar são incompetentes. Contentam-se com migalhas. Milionárias migalhas, mas coisa pouca considerando o tamanho da obra.

A incompetência de muitas autoridades e representantes do povo me fez lembrar de um diálogo entre um vereador e um deputado na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul. O deputado analisava o orçamento do estado e era o responsável por inserir algumas emendas de deputados a este orçamento. O vereador dizia:

- Deputado, faça o mínimo por nós.

- Vereador, fique tranquilo, farei o máximo que puder, esclareceu o deputado.

O vereador, desconfiado, que lá no interior a gente é meio receoso da boa vontade dos políticos que atuam na capital, voltou à carga, com a melhor das boas intenções:

- Faça o mínimo, deputado.

Este, possivelmente acreditando que o vereador era um pouco simplório, pedindo tão pouco, fez uma série de observações a respeito do trabalho que estava desempenhando, e concluiu, acalmando o vereador, "farei o máximo".

O vereador mostrou-se satisfeito com o andamento da reunião que até se estendeu mais do que havia planejado. Mas ao sair, voltou-se uma última vez, observou o deputado, que por certo estava feliz de se liberar daquele chato, e por derradeira vez ressaltou:

- O mínimo, deputado, já vai ficar bom.

Meses depois, ao saber que o orçamento havia sido aprovado pela Assembléia, foi conferir a inserção das emendas que solicitou ao nobre representante do povo, que relatara a peça orçamentária, e sem muita surpresa descobriu o que de há muito desconfiava. Nenhuma de suas solicitações foi incluída no orçamento.

Do jeito que as coisas andam, com o presidente da Câmara manipulando as coisas do país para o bem ou para o mal, sabe-se lá, mas promovendo um imenso tumulto, lembrei-me do vereador que dizia:

- Faça o mínimo deputado, já vai ficar bom.