SEM PENITÊNCIA

SEM PENITÊNCIA

OSNI de Assis e SILVA

Como comecei a escrever?

- Não sei.

Como abracei o jornalismo?

- Aconteceu.;

Se não me falta a memória, comecei a escrever algumas porcarias quando de posse de uma máquina, guardava-a debaixo da cama. Não tinha uma mesa.

A máquina de escrever pequena, portátil, tinha seus “tipos” muito pequenos, letrinhas miúdas, mas quebrava o galho.

Eu não tinha pressa em escrever. Talvez fosse mais preguiça. Eu não ia deixar de ir para o clube, treinar natação, para ficar pipocando naquela coisinha que, vamos ser sinceros, não me era simpática. Posso dizer: detestável, letras miúdas e sem uma mesa para posicioná-la.

Nunca me apeguei a ela e a “não-simpatia” era recíproca. De quando em quando, ela “embananava”, tirava sua “casquinha” em cima de mim!

Era comum escrever o que não devia ser escrito, porcarias repito.

Creiam, entretanto, foi uma boa época.

Certa feita, cumpliciado com o linotipista e com o impressor, passando por debaixo das pernas do redator-chefe, burlando a vigilância austera dos udenistas, através de um artigo impresso, “empastelamos” toda uma edição.

O jornal, é bom dizer: era diário.

Realizamos o indesejável, o impossível para os chefões do udenismo: empastelar, retirar de circulação toda uma edição!

Orgulhosos, olhávamos um para o outro e sorríamos, aquele sorriso de mineiro malandro, serrano.

Tínhamos conseguido rodar no preto aquilo que não podia ter sido escrito.

- Coisas de política, justificamos para nós mesmos!

E nos perdoamos, com direito a não fazermos penitência.

Karuk
Enviado por Karuk em 24/09/2005
Código do texto: T53497