ELEIÇÕES ANTIGAMENTE...

Eleições antigamente...

As eleições antigamente eram muito mais atraentes do que hoje. O pessoal vivia intensamente o clima. Aqui em Calambau a disputa era entre o PSD (Partido Social Democrático) e o PR (Partido Republicano) .

Nos comícios na cidade, os partidos ofereciam aos eleitores um jantar, geralmente o cardápio era: arroz, tutu e carne de boi moída (boi ralado, como diziam) com batatinha. Em outras vezes ofereciam aos eleitores o pão com salame, que o pessoal chamava de churrasco As siglas dos partidos eram escritas nos morros que circundam a cidade. A turma capinava o formato das letras dos partidos, colocavam cal, e de longe dava para ver as letras. No pasto do PR, a turma do PSD dizia que era “pasto ruim”. No do PSD, a turma do PR dizia que era “pasto sem dono”. E assim este clima de acirrada disputa ia até o dia da eleição.

Como havia perdido as eleições de 1.954 para o PR, que elegeu o Sr. José Pedro Fernandes, em 1958, a turma do PSD lançou a candidatura do jovem Antônio Quintão Carneiro-o Ninico Carneiro- pela segunda vez, que entrou na luta com muito vigor e o apoio principalmente da juventude local. Se o Ninico havia lançado o jornal “A Verdade”, a turma do PR respondia com folhetins, fazendo as suas propagandas.

Para ilustrar o que ocorria também na zona rural, irei reproduzir uma carta que recebi do José Luiz, hoje morador em Barbacena, relatando fatos da época:

“Oi Murilo. Parabéns pelos seus textos. O meu nome é José Luiz, sou seu conterrâneo. Moro em Barbacena há mais de trinta anos, mas não esqueço daí nem um pouco. Fui criado no Sítio. Gosto muito dos seus casos das fazendas, carros de bois, tropas e outros mais. O meu pai era o Rafael, você deve se lembrar, pois ele trabalhou com o Padre Grossi. Sou neto do Zé Ildefonso. Lendo os seus textos fiquei sabendo de muitas coisas que ainda não sabia. Por exemplo, a história de minha querida cidade. Daqui uns três anos espero me aposentar e quem sabe poderei viver aí de novo.Agora,sobre a política lembrei-me de uns versinhos que eu ouvia o povo cantar, quando ainda eu era criança.Era assim:

TIRANDO RETRATO

Semana passada

Eu tirei retrato,

Pra jogar prá cima

Estes candidatos,

Mandei falar

Com o povo lá do Salto.

Que o PSD sempre foi bom de trato.

Lá na Itapeva

Fala o Zé Tomé,

O Zé Clemente

Fala na Izabel,

Fala o Lolô lá no Café,

E lá na Barra quem fala é o Yeyé.

Antônio Euzébio ,

Lá no Salto é forte,

Tem Geraldo Coelho

Lá em Bananeiras,

As coisas lá em Cruzes

Não são brincadeiras,

Quem topa tudo

É o Joaquim Pereira.

Da Cana Verde

Até no Caconde,

Tem Jacinto Soares

Prá tocar o bonde.

Dá lavoura falta um nome só,

É o Antônio Custódio lá no Quenta Sol.

O resto não me lembro bem, se você souber, por favor, complete. Ainda faltam outros nomes como Cacau, Zé Fernandes,Benigno e Idú. A música fala também sobre a transferência de professoras para Senador Firmino. Um abraço, do seu amigo José Luiz.”

Os nomes citados nos versos foram de pessoas que se candidataram a Vereador pelo PSD, partido do Ninico Carneiro.

Como podemos verificar as eleições contagiavam a todos, da cidade e da zona rural.

O fato é que o Ninico ganhou as eleições de 1958.

Nesta época o dobrado Antônio Quirino, recebeu por parte da turma do PSD a denominação de “92”, que foi o número de votos de frente que o Ninico obteve. Este dobrado recebeu uma letra escrita pelo José Maria Peixoto, o Zizinho Peixoto e foi cantado por muito tempo pelos pessedistas.

Ainda voltando ao José Luiz, ele me disse que o seu tio Ismael, que era carreiro, cantava tanto esta música que até o carro de bois passou também a cantá-la... Quanto à música dos versinhos sobre a política é a “Adeus Mariana”, um antigo sucesso sertanejo. O autor da letra, acho que era de um rapaz da zona rural de Bananeiras. Se alguém souber o restante da letra, favor enviar-me, que eu a remeterei ao José Luiz.

Coisas de nossa política...

Calambau , agosto/2015

Murilo Vidigal Carneiro