Porque espirobol é da paz :-)

Esses dias, fiquei espantada quando vi uma quadra de espirobol (espiribol, tetherball), que há muito tempo não via.

Havia ali crianças jogando com muita alegria, dedicação, energia. Eu me senti muito nostálgica ao lembrar do tempo de escola em que eu e as colegas diariamente jogávamos espirobol. Lembrei de como sentíamos intensamente a "vibe" do jogo! Como aguardávamos ansiosas o momento do intervalo das aulas, e corríamos para ocupar a quadra! E como nos sentíamos felizes durante e depois de cada partida! O "treino" somente era encerrado depois de soar o sinal para o retorno às aulas. Enquanto não soasse, sentíamos que poderíamos ficar jogando eternamente, de tanto que curtíamos.

Lembrei que este esporte é injustamente considerado violento. Refleti então sobre a necessidade das crianças (e de todo mundo) de gastar energia, de expressar suas impressões e sentimentos (além de suas opiniões e ideias) e de canalizar qualquer tipo de agressividade para algum destino adequado, útil, construtivo. Afirmo desde sempre que seria um ótimo auxílio para o bem-estar psicológico das pessoas se todos pudéssemos dispor de um saco de areia (como aquele dos boxeadores, sabe?). Seria algo muito útil para espancar toda vez que nos sentíssemos contrariados, injustiçados, silenciados, impedidos ou limitados de alguma forma. Creio que evitaria amplamente os desentendimentos entre pessoas motivados pela intromissão de uns na contrariedade de outros. :-)

Em casa, não tínhamos o tal saco de areia, mas no colégio tínhamos a sagrada quadra de espirobol. Foi um substituto excelente! Lembro que era muito divertido, e além disso muito relaxante (hehehe) socar a bola com todas as forças! Com dedicação e energia, oferecíamos este "impulso" à bola, e víamos a sua linda trajetória curva ao redor da quadra adversária. Ficávamos superfelizes quando a bola retornava à nossa quadra, depois de ter descrito uma volta completa, e a corda marcava no poste que havíamos acumulado mais um ponto! Então voltávamos a dar-lhe soco na bola (digo, a dar impulso), e prosseguíamos nos dedicando!

A acusação de esporte violento é tão injusta quanto limitadora. Para mim, parece que se insere nas antigas cantilenas de "menina não pode". :-P Elaborávamos até mesmo táticas e posicionamentos, fazíamos aquecimentos para aprimorar nosso preparo físico, fazíamos alongamentos para melhorar nosso alcance e impulsão. Muito do desenvolvimento de atletas era praticado com cuidado por nós nesta simples brincadeira escolar. Lembro que as partidas e campeonatos eram tranquilos, sem incidentes de agressão entre os participantes. Quem fazia um ponto, comemorava; quem tomava um ponto, se concentrava mais ainda para desfazer o ponto adversário. No fim do recreio, quem ganhava, ganhava; quem perdia, perdia. A agressividade era toda direcionada à bola.

Creio hoje que este simples esporte escolar permitiu a várias de nós a expressão (provavelmente inconsciente) de nossas angústias, renúncias, medos, sofrimentos, brabezas, revoltas, reações em geral às injustiças e outras violências. Hoje parece que, socando a bola, nos sentíamos livres de todos esses pesos emocionais. Parece que projetávamos todos esses dramas na pequena bolinha, e nos libertávamos deles os "mandando para longe" toda vez que a socávamos!

Por isso eu digo que espirobol não é violento. É até mesmo apaziguador! =)

23.08.2015