A PERSEGUIDA

Suzane chegou a algumas semanas na sala e nesse pouco espaço de tempo, involuntariamente, já despertou em si diversas formas de olhares e pensamentos, sua aparência física, naturalmente, chama a atenção de todos, principalmente dos rapazes, já que ela é loira, alta, magra, tem olhos verdes, um tipo físico incomum por aqui, portanto, uma beleza um tanto quanto exótica, peculiar, que também atraia outros olhares, o das outras moças da classe, que provavelmente, não são dos mais amistosos.

Enquanto uma parte da turma a enxerga com um certo vislumbre, satisfação, olhar cheio de desejos, esperançosos, a outra parte a vê como ameaça, perigo constante, como ladra das atenções masculinas que anteriormente eram divididas igualitariamente, e agora, só tem um endereço, uma única direção, sem contar que a nova aluna é só elogios dos professores por causa de suas boas notas, é sempre mencionada como um exemplo a ser seguido, uma menina brilhante, uma aluna aplicada e coisa e tal.

O comportamento dos rapazes, de fato mudou, quando alguma delas discute qualquer assunto em sala, ou são logo rechaçadas, ou são na maioria das vezes, ignoradas em suas respostas, agora, quando é a vez da aluna nova responder algo, a coisa muda de figura, todas as atenções são voltadas para o canto esquerdo da sala, até os que a um tempo atrás eram extremamente tímidos e introvertidos querem interagir nos assuntos, os que não eram lá muito interessados em nada, passaram a ser, vejam só, ´´nem tudo está perdido,`` talvez, o que se ganhou nem foi notado, mas, o dano moral causado pela novata é que repercutirá.

Suzane que nunca fez mal a ninguém, agora, tem inimigas, rivais dispostas a recuperar o ´´território perdido,`` a linda moça passou a ser perseguida, a sofrer bulling, pelo fato de ser magra e alta, passaram a chamá-la de ´´olívia palito,`` dessa forma, picharam seu caderno quando foi ao banheiro, por incrível que pareça a moça branca sofre de racismo, volta e meia, geralmente no recreio, ela ouve alguém gritar na multidão de alunas, coisa do tipo, ´´ sua branquela azeda,`` é o tempo todo hostilizada com pequenos empurrões na saida e às vezes, até na aula de Educação Física.

Foi tudo tão natural, nada forçado nem forjado, loirinha de nascença, o verdejante olhar naturalíssimo, pele alvíssima, tão delicadinha, chegou na cidade sem querer, por causa de uma proposta de emprego irrecusável oferecida a seu pai, era tão querida em sua cidade natal e agora, odiada, perseguida, hostilizada sem fazer mal nenhum a ninguém, não entendia como isso era possível , pensava que na cidade grande as pessoas fossem todas cordiais e educadas, não dava mais, não suportaria tamanha crueldade, deixou de frequentar as aulas, de sair as ruas, a maior parte dos dias ficava chorando no quarto,queria desistir daquilo tudo e voltar a ser feliz de onde veio, e assim o fez, voltou para a tranquilidade do interior, foi morar com a avó, na chácara recanto do aconchego, deixando para trás, seus pais e irmãos e a continuação de uma vida em família repleta de amor e ternura, mesmo sem nunca ter cometido mal algum a ninguém, teve que fugir às pressas de madrugada, no primeiro ônibus, sem ninguém ver.

GILMAR SANTANA
Enviado por GILMAR SANTANA em 25/08/2015
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