Porta de entrada

Existe sim um vício que é porta de entrada para muitos outros, na minha geração muitos se corromperam e eu mesmo fui um deles.

Passava dias e noites, largado no sofá, procurando alguma emoção diferente que me alegrasse, e assim foram décadas a fio, sem sair da mesmice.

Como eu disse no início, como abri as portas da minha percepção para este vício específico, comecei a ter muitas vontades esquisitas, comprei cigarros, cervejas, vodkas e uísques, carros, motos, me acabei adotando um estilo de vida que eu nunca quis, com tantas mentiras que eu comprei, de tudo que eu não precisava.

Conseguiam embutir em mim estas vontades enquanto eu estava anestesiado, sem que eu me desse conta do quanto estava perdido, fali, fiquei deprimido e desacreditado da vida.

Mas como nem tudo é osso neste planeta, pensei que poderia ainda dar tempo de sair deste ciclo pernicioso, juntei todas as minhas forças e comecei a enfrentar a abstinência.

No início foi difícil, ainda mais porque tanto em casa como no trabalho as pessoas consumiam do meu lado e era impossível passar batido, ao que qualquer pessoa também está sujeita, na sociedade contemporânea.

Então me mudei e estabeleci regras na nova residência, melhorei com o passar do tempo, comecei a ver o mundo com todas as suas nuances, e ele é maravilhoso, bichos, plantas, lugares, gente, tudo é muito mais magnífico ao vivo, sem dúvida. Às vezes, quando estou sozinho de madrugada, até me bate uma certa vontade de sentar no sofá, ligar a TV e não pensar em mais nada.

Mas a TV é uma droga muito poderosa, então eu controlo a minha fissura pelo controle remoto, e ela passa em cinco segundos. Pela internet, agora assisto apenas ao que me interessa.

Ricardo Selva
Enviado por Ricardo Selva em 25/08/2015
Reeditado em 25/08/2015
Código do texto: T5359023
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