DIVAGAÇÕES SOBRE AGOSTO




Tarde de agosto,com seus cheiros e ventos.
Ventos de agosto!
Quando em criança, ficava ouvindo as lendas que cercavam este mês.
Alguém dizia que era mês de cachorro louco,mês do desgosto, do agouro e outras amenidades do gênero.
Minha mãe, uma pessoa sensível,consertava os estragos dizendo:
É o mês das floradas, das violetas e junquilhos.
Vez e outra o vento batia forte na janela de madeira e o impacto era quase violento,fazendo valer a afirmativa daqueles que viam o agosto pelo lado tenebroso.Em contrapartida ele,  o  vento ,cruzando pelas pereiras, desprendia milhares de pequenas pétalas brancas que,feito nevasca, abrigavam-se casa a dentro.
Ao fundo do quintal,margeado por um pequeno riacho de águas muito limpas,margaridas do charco abriam-se em profusão.A coxilha estendia-se num tapete verde pontilhado de quero queros e sabiás precoces principiavam as cantigas do acasalamento.
Um sabiá gorjeia agora em meu quintal e o mensageiro dos ventos insinua-se em batidas que fazem-me mergulhar em mundos desconhecidos.
No meu local de trabalho,além da janela, odores de agosto despertam-me a memória olfativa, evocam a cozinha de minha infância, o café das três, as falas mansas tecendo imagens do mês dos ventos, dos cheiros,dos presságios...
No cenário de hoje,sob um céu fumarento,passeia uma nostálgica lembrança de agostos distantes. Dos quintais das nonas , dos laranjais floridos, dos carroções de feno na estrada da minha aldeia.
Vou para o meu café da tarde,numa cozinha silenciada das mansidões  de outrora, embora junquilhos digam-me na  suavidade de  seus aromas  que no arquivo da memória a casa do tempo,mergulhada em ventos de agosto,ainda persiste.
Com  portas e  janelas  abertas a  acolher-me  quando a dupla "solidão & saudade",unidas,tentam  fragilizar-me.