EU

EU

Quem na verdade sou eu? Às vezes acho que eu não sou quem penso que sou. Quantas vezes me encontro em situações que nunca pensaria que pudesse estar. Quantas vezes procuro e não me encontro. Quanto mais falo menos sou ouvido, e o pior não ouço o som da própria voz. Escuto tantas coisas de outros e não consigo me ouvir. Meus olhos fitam o horizonte na esperança de localizar alguém que possa me conduzir num caminho de paz e serenidade e não consigo me encontrar. Às vezes tenho soluções para tantas questões que outros me formulam e não tenho pequenas respostas para mim. Já dizia o filósofo “Se penso, logo existo”. Mas existo realmente?

Quais foram os feitos por mim que determinam minha existência? Sou para muitos um referencial de exatidão de comportamento, porém como uma ave noturna fica espreitando o relógio e qual um vigilante insano observo os ponteiros a se movimentarem pedindo que eles voem em direção ao futuro e quando este futuro chega, torna-se presente e num ciclo infinito, continuo, encontro me no mesmo ponto em que comecei a minha procura e não me encontro. Procuro alguém que me ouça, mas às vezes tenho medo de expor minhas idéias com o dilacerante medo que me tomem por um louco, sem me aperceber que estou atrelado na mais forte das camisas de forças que é à vontade e o medo de me encontrar comigo mesmo. É realmente a noite é minha eterna companheira, os personagens com que convivo na fictícia realidade criada nos meus textos talvez seja a minha mais profunda vontade de ser. Os cigarros consumidos um atrás do outro levam me nos semicírculos de sua fumaça meus anseios, quando o último toco de cigarro jaz no cinzeiro mergulho em meu travesseiro e em outra realidade onde o viver é livre, onde encontro asas e elas me levam a um lugar onde o tempo e realidade não existem, mas como num piscar de olhos volto novamente em meu mundo real e duro, e novamente volto querendo me encontrar. Mas tenho tantas pessoas ao meu lado e porquê ainda nenhuma delas deu me o que tanto busco? Este conflito interior irá me levar em busca de minha insanidade mergulhada numa tremenda razão que não quero aceitar, de uma dura mais intrigante situação que não quero encontrar, para mais uma noite em meio aos meus cigarros, ao meu cinzeiro, aos meus personagens, ao meu Eu que busco, mas na verdade não quero encontrar para no desejo ainda mais insano e louco de me tornar eterno...

Obs: Este texto foi feito para um amigo muito especial

Planaltina.05/06/2003

Gilmar