Perdão

Vivemos em um mundo onde o capitalismo selvagem (no sentido mais clássico da expressão) tomou conta de quase todos os países. A globalização tem diminuído as fronteiras de comércio, línguas, costumes... mas as fronteiras impostas pelas diferenças materiais entre países e pessoas continuam firmes e fortes como nunca.

Os países mais pobres, em desenvolvimento buscam auxílio junto às instituições financeiras internacionais como o FMI (Fundo Monetário Internacional) para seu desenvolvimento ou sua sobrevivência.

Dessa prática muito comum em países como o nosso é que vem outra expressão com a qual nós brasileiros já estamos muito bem familiarizados. Já nascemos ouvindo falar sobre a tal “dívida externa”.

De vez em quando ouvimos falar em perdão de dívidas. O próprio Brasil já perdoou a dívida que alguns países mais pobres tinham com nossos cofres. Porém esse tipo de atitude é incomum em nossos dias. Todos correm atrás de acumular riquezas, nunca de perdoar dívidas.

O perdão é mesmo uma palavra que muitos gostariam de riscar de seu vocabulário. Como é difícil perdoar! Como é difícil buscar o perdão!

Certa vez Jesus foi almoçar na casa de um homem que era um grande líder da igreja da época. Tudo corria muito bem: comida boa, boa conversa... tudo conforme o planejado. Até que, de repente, entra uma mulher na sala onde estavam almoçando e começa a beijar os pés de Jesus, lavando-os com suas lágrimas e secando-os com seus cabelos e, por fim, derramando um perfume muito caro sobre a cabeça de Jesus.

Uma atitude muito linda, uma atitude digna de louvor. Porém a reação do anfitrião de Jesus foi outra. O distinto líder da igreja reprova tal ato, não pelo ato em si, mas por causa da pessoa que o praticou: “uma mulher de má fama”, uma pecadora do mais alto grau.

Nossos corações são maus. Os “bons atos” que praticamos diante dos olhos dos outros nos fazem acreditar que somos pessoas boas, ou que pelo menos somos melhores do que a grande maioria. Procuramos ser pontuais no trabalho e fazer tudo aquilo que nos é exigido (e só aquilo que nos é exigido); procuramos trazer pra dentro de casa o alimento, corrigir nossos filhos; procuramos ir pra igreja nos finais de semana, sentar na primeira fila e desfilamos com a melhor roupa que temos...

Agimos assim e achamos que somos as melhores pessoas do mundo, que merecemos nosso lugarzinho no céu. Ao mesmo tempo julgamos condenados aqueles que não se enquadram nesse nosso modo de agir. Esquecemos que somos imperfeitos, falhos e que tudo aquilo que achamos que são nossas grandes virtudes não passam de máscaras atrás das quais procuramos esconder nossos defeitos, nossas frustrações, nossas derrotas.

Para derrubar essa muralha de falsidade é primordial colocarmos em prática o perdão. O perdão vivido diariamente transforma nossas vidas e a vida daqueles que estão ao nosso redor. Um empregado que sabe perdoar e deixar suas frustrações de lado vai poder render muito mais do que lhe é exigido; o pai que sabe perdoar e buscar o perdão leva pra casa muito mais do que comida e autoridade, leva amor, compreensão, carinho, amizade; cada pessoa que vive o perdão a cada dia da sua vida vai à igreja para recarregar suas forças, buscar o amor de Deus e reparti-lo com seus pares.

Quando são perdoadas dívidas, os países que tem as maiores dívidas são aqueles que mais ficarão agradecidos, que mais se alegrarão com o grande presente recebido. Se a dívida é pequena a alegria também é.

Você se considera uma pessoa “santa”, sem defeitos? Então sua alegria será pequena, não por você não necessitar do perdão em sua vida, mas por não saber reconhecer o seu grande valor. Você se considera uma pessoa cheia de defeitos e limitações, que sempre é deixada de lado ou que não merece o perdão dos outros? Pra você está reservada a maior alegria, você sabe reconhecer o valor que as pessoas tem e saberá retribuir cada pequeno ato a seu favor com grande amor e desprendimento.

Que Deus nos perdoe a cada um do fato de acharmos que não necessitamos do seu perdão.