Um raio de sol entrou suavemente através das cortinas azuis e iluminou o rostinho pequeno de Jade.

A noite inteira o seu Anjo da Guarda estivera a postos, olhos onde se via muita luz e ternura, velando o sono da menina.
A mamãe despertou de uma noite estranha, sonhara que um homem penetrava no quarto na intenção de fazer mal às duas.

Foi só um pesadelo, mamãe.

Já não se lembrava do passado nem pensava nele. Era estranha aquela sensação e ao mesmo tempo muito boa. Levantou-se, calçou as pantufas e caminhou até o berço onde a filha dormia
Seu coração transbordou amor ao ver o rostinho bonito da filha, sorrindo enquanto dormia. Sua filha amada, seu bebê, seu tesouro.
Por Jade ela faria tudo, abriria mão da própria vida para defendê-la.

Não foi estranho para a mamãe não sentir vontade de ir trabalhar. Nem se perguntou pelos outros.
Que outros?
"As coisas antigas já passaram".
Onde tinha lido isso? Não se lembrava.

Abriu a janela e contemplou o mar que se estendia à sua frente, infinitamente. Como a sua vida. Como a vida de Jade.
Sentiu o cheiro das rosas brancas do quintal. Estavam lindas, floresciam esplêndidas com aquele ar puro que a mamãe aspirava desde sempre. Em torno à casa havia grandes árvores, cajueiros, coqueiros, pés de castanhola. Pássaros cantavam alegremente, saudando o dia eterno.

O bebê se mexeu no bercinho. A mamãe pegou-a ao colo, amamentou, deixou que ela dormitasse mais um pouquinho e começou a planejar o dia. Caminharia à beira da praia com a filha, cataria conchinhas para fazer um lindo colar.

Prendeu os cabelos em um coque. Como era bonita, a mamãe, suave, gentil, sensível. Os fios louros realçavam o azul celeste do robe.
Por um instante sentiu um princípio de saudade mas o anjo veio e impôs as mãos sobre sua cabeça. E ela se sentiu feliz de novo. 

Feliz, mamãe. Você. Para sempre.