Bolo de milho com café

Foi numa terça feira fria, após uma noite chuvosa, em pleno inverno paulistano.

Eu acompanhava minha filha ao médico e fomos ao hospital mais próximo de casa que atendia ao nosso convênio.

Lá vivemos a situação já conhecida por muitos: longa fila de espera numa demora eterna.

Muito tempo depois, ao passar pelo clínico geral, ela foi medicada num procedimento um tanto quanto longo.

Depois de tanto tempo de espera, eu sentia muita fome. Aquele pequeno e simples hospital da periferia onde moramos não contava com restaurante, muito menos com lanchonete.

Foi quando descobri um vendedor ambulante que vendia salgadinhos, bolo e café numa pequena van, adaptada para isso. Estava sentado numa banquetinha de plástico, conversando com um outro rapaz.

Fui até lá, investiguei com certo receio, confesso. Vi um bonito bolo de fubá e, ainda desconfiada, perguntei se estava fresquinho. Prontamente, ele se levantou e me atendeu, animado, solícito, sorridente:

_ Está sim. É de hoje.

Naquele momento, ele me transmitiu confiança.

Perguntei o preço e quase não acreditei, pois era um valor bem irrisório, perto da fome que eu sentia.

Pedi também um copo de café com leite. Veio quentinho. E o pedaço de bolo, bem generoso.

O melhor ainda estava por vir. Ele ofereceu sua banqueta, esperou-me sentar e me serviu o bolo, o café, o guardanapo.

Eu comi aquele bolo como quem come um manjar dos deuses. Estava delicioso, sentia-se o sabor do milho, nem seco demais, nem cremoso demais, mas úmido e fofinho no ponto certo, do jeito que eu gosto. E o café com leite. Hummmm.... na medida.

Quando terminei, saciadas estavam a fome física e da alma. Ele ainda pegou o guardanapo e o copo descartável e jogou no lixo.

Ao pagar, eu deixei uma pequena gorjeta. Nem era tanto, não era mesmo. Mas ele olhou, sem acreditar. Já ia me devolver, pensando que eu havia pago a mais por engano, quando eu falei que era uma "caixinha" pra ele. Então, ele disse:

_ Puxa, moça, eu mereço tudo isso?

_ Merece até mais, pois sua gentileza não tem preço.

Ele me olhou com muita gratidão:

_ Deus te abençoe!

_ Amém! Deus te abençoe também.

Voltei com aquela sensação de dia ganho.

Minha filha logo terminou o procedimento, passou pelo retorno médico e obteve alta.

E mesmo sabendo que ela estava cansada e meio fraquinha, eu vinha, toda entusiasmada, contando o "causo" do bolo de milho com café mais delicioso que já comi na minha vida.