HORA DO RECREIO

 
Ele chega com seu jeitinho cativante e vai dizendo:

— Tia Marina, será que dá pra gente conversar um tiquinho assim?

O tiquinho assim ele marca mostrando uma distância pequena entre o polegar e o indicador. Já sei que lá vem coisa:

— Podemos sim, Bernardo, claro!

— É coisa séria, tá?

— Claro, Bê, eu sei! Você sempre conversa coisa séria.

Na elegância dos seus cinco anos ele me puxa pela mão e enquanto a criançada se esbalda em brincadeiras, algazarras e suores da hora do recreio ele quer conversar. Sentamos num banquinho e abro nosso assunto sério:

— Muito bem, sobre o quê você quer conversar, Bê?

— Sobre os futuros da Empresa...

 Levo um pequeno susto, engulo o riso:

— Ah, sim! Os futuros da Empresa! (meu Deus, de onde ele tirou isso?)

— Eu tô com umas ideias  muito boas, né? E se você gostar...

Contenho minha vontade de abraçá-lo bem apertado. Sempre tenho que me conter quando ele vem me procurar com suas boas ideias:

— Sim, e quais são suas ideias? Pode falar, Bernardo...

— Eu tava pensando... Que a gente podia fazer três coisas aqui na Escolinha...

— Vamos às ideias, Bê!

— Eu tô querendo fazer um teatrinho de Páscoa com meus amigos (Páscoa, em setembro!).  A merenda podia ter caldinho de feijão bem quentinho (o calor tá de matar por aqui). E você podia me pôr na sala da Tia Marília... É que eu acho cabelo preto mais bonito, sabe?

Não resisto, e abraço, um abraço daqueles bem apertados. O que seria de mim sem esse maravilhoso administrador tão preocupado com os futuros da Empresa?