E AGORA, JOSÉ?

Hoje, 13 de agosto, 2015, 22h00m, para a exatidão do registro, no coletivo entra um menino inquieto, olha tudo, mexe em tudo, chamando a atenção de todos.
Eu estava com fones de ouvido, ouvindo Raul, quando o pequeno, virando o rosto para mim, uma vez mais, sorriu e fez sinal de positivo.
Como estava á mão, coloquei um dos fones no ouvido do petiz e por instantes dois estranhos estavam irmanados ouvindo uma mesma música!
Ele me sorri ao termino da canção e voltou-se para as suas reinações “de narizinho”...
Num dado momento, estava só em meu banco e chamei-o até mim...
E ouvimos juntos Antunes; “A casa é sua”.
Estranha coincidência, eu que tinha tudo, (o que trazia dentro e fora de mim), estava como na música, carente de algo; a vivacidade do guri, sua esperteza, sua curiosidade, a sua predisposição para o novo, o diferente, sem medo!
Em certo momento desta viagem recebi dele um muito obrigado, sob o holofote de um sorriso e do brilho de olhos arregalados.
Perguntei-lhe o seu nome: José!
Desejei que fosse o João, o Manuel, o Henrique, o Junior, que fosse enfim todos os meninos e meninas da minha rua, do meu bairro, da cidade, do estado, do Brasil, do mundo... Esperto, vivaz, curioso, destemido!
- Embora haja quem diga que toda unanimidade é burra!
Mas, o que aparenta ser bom, não deveria ser imitado, até o momento da certeza de que não o é?
Por fim, fica numa referência a Chico, uma questão: E agora José?
Talvez José durma, e amanhã acorde sem se lembrar do ocorrido, das músicas de Raul e de Antunes... Afinal o que são Raul e Antunes, hoje, para um Piá?
Talvez José até se recorde, ou venha em algum momento a se recordar... Mas, o momento foi lindo! E eu espero que não o tenha sido só para mim...
Todo este prolegômeno foi para dizer;
- Pensa junto comigo...
Não podemos brincar de roleta-russa com a esperança, a vida é toda esperança!
Não podemos nos deixar envolver e moldar pelas noticias ruins com que somos bombardeados diariamente...
Não podemos temer o toque!
O envolver-se!
O encantar-se!
Não podemos sufocar a curiosidade, a vivacidade em nossas crianças, não podemos alimentar o medo, mas incentivar a responsabilidade, nelas e em nós...
Não podemos nivelar nossas condutas pelas dos que nos roubam, enganam, desprezam, menosprezam...
Não podemos matar a esperança ativa, que luta na construção do bom e do bem.
Matar a esperança, em nossas mentes, em nossos corações e atos é apontar uma arma, não para nossos próprios pés, o que só dificultaria os nossos passos, mas, para as nossas cabeças e apertar o gatilho! – O que seria o fim...
E agora o José?
Talvez o José agora durma bem agasalhado e bem alimentado, talvez sonhe como merece toda e qualquer criança, tendo o sono guardado pelos pais!
- Que Deus te abençoe José!
Foi a minha despedida!
- Abençoe Pedro, Joaquim, Vinicius, Antônio, Luiz, João, Maria, Anita, Graça, Luiza, Madalena, Cida, Regina...
O meu desejo...


Edvaldo Rosa
www.sacpaixao.net
13/08/2015


Crônica presente na pág. 14 e 15 da http://revista.plenaidade.com/novembro2015/