Ao tempo dos meus vinte anos

A cada dia me torno mais amante do tempo. Há alguns anos atrás eu o odiava, eu queria que não existisse tempo, que ele não fosse necessário para resolver meus problemas, para me ditar o que e quando fazer o que eu tinha vontade. Mas ele estava sempre ali e havia sempre alguém pra lembrar-me aquela velha frase “O tempo cura tudo, resolve tudo. Tudo tem seu tempo”.

Nossa! Como eu odiava ouvir isso. Sempre fui impulsiva e por vezes imediatista, queria resolver tudo logo, do meu jeito, queria que minhas dores passassem logo, assim que eu terminasse de engolir o remédio (ainda sou assim..hehe), queria que chegasse logo o dia seguinte pra eu poder aproveitar o recreio do colégio(!!), queria que minha mãe esquecesse minhas mal criações e não ficasse horas brigando comigo. Quando tinha 10 anos queria ter 15 pra beijar na boca, quando tinha 13 eu já havia beijado na boca e queria ter 15 pra ir a festas, aos 14 fui ao meu primeiro show sozinha (Kid Abelha no Dragão do Mar..massa!) e por aí vai. Eu sempre briguei com o tempo, porque ele não queria acompanhar minhas vontades.

Até que uma certa vez, me dei super mal nas minhas “correrias temporais”, e não teve solução imediata que desse jeito. Tive que esperar o tal “tempo” que todo mundo falava. Quase cansei de esperar, mas quando me vi fazendo umas dessas análises de vida que a gente pára pra fazer de vez em quando, vi como tudo estava bem e o que eu julgava sem solução estava tão resolvido que sequer existia mais. Não foi do dia para a noite, mas foi com o TEMPO que tudo passou e foi resolvido.

Desde então, encaro os fatos um pouco diferente. Não vou dizer que sou a pessoa mais paciente do mundo, eu estaria enganando a todos, mas aprendi a conter minhas expectativas, meus desesperos, a não me descabelar (tanto) com meus problemas (só não aprendi a controlar minha impaciência com minhas dores..hehe!

Tenho aprendido a confiar no tempo, porque ao longo desses últimos anos de adolescência e de “transição” pra vida adulta, foi o tempo que foi direcionando e me ajudando a desmanchar os mil e um nós que (sabe Deus como!) consegui dá na minha vida. Longe de mim jogar as responsabilidades da minha vida pra algo tão abstrato como o tempo, o que estou tentando dizer é que se hoje eu não vejo saídas, soluções paras coisas que me acontecem, amanhã já não é assim.

Tenho 20 anos, não é uma estrada muito longa, às vezes acho que só vivi uns quatro ou cinco, mas nesses últimos dois anos tenho percebido muito mais mudanças em mim do que em outras épocas, coisas que o tempo fez e ainda está fazendo. Mudança de pensamento, de comportamento, de atitudes...Às vezes tenho medo de não me ver mais, mas sei que é apenas consciência da mudança.

Crise existencial? Não, não tenho muita paciência pra essas coisas. Vivo pensando, refletindo, analisando as coisas, as pessoas, o que ouço, o que digo...é bom. Não que eu passe a me conhecer melhor todas as vezes que faço isso. Muitas vezes até me confundo mais...Mas gosto, tiro algumas conclusões, tomo algumas decisões, me resolvo em algumas coisas, desisto de outras, descubro sentimentos, acabo com outros...E assim vou levando e assim o tempo não é mais inimigo pra mim.

Aos 20, escrevo isso, de bem com o tempo, com meus pensamentos. Um dia, se me for permitido, terei meus 40 anos, não sei o que meus pensamentos terão feito com minhas teorias, no entanto, espero não ter sido tragada apenas pelas vaidades da experiência, nem pelo medo do tempo. Espero sentar em algum lugar e escrever, talvez não mais em frente a um computador, mas queira eu, ainda poder sentir prazer em pensar na minha vida e em esperar dela sempre algo melhor, mesmo que para isso eu precise aos 20, 30 ou 40, dizer a mim mesma: “Tudo tem seu tempo”.

Lili Almeida
Enviado por Lili Almeida em 23/06/2007
Código do texto: T537425