DINHEIRO DE MENTIRINHA

Gosto de observar as brincadeiras das crianças e, não raro, pasmem, dou uma experimentadinha nos brinquedos. Acho que só os que vivem de mal com a vida perdem por completo a sua porção criança. Quem não recorda os seus tempos de criança está doente da cuca.

Infelizmente as brincadeiras e os brinquedos de hoje não têm a criatividade dos de antigamente, estão cedendo lugar a um comportamento mecânico. As crianças estão se limitando a apertar botões, a máquina brinca por elas. Perdeu-se a criatividade do tempo que as crianças tinham que usar da fantasia e da imaginação para brincar. Não se trata de nenhum preconceito contra os brinquedos mecânicos, mas de um fato concreto: sem a fantasia não há a mesma alegria porque não há criatividade.

Mas o que eu quero é lembrar uma das brincadeiras do meu tempo de criança. Uma brincadeira que por sinal era muito instrutiva e criativa. Refiro-me ao dinheiro de mentirinha. Esse dinheiro era representado por cédulas aproveitadasdas carteiras vazias dos cigarros. A meninada percorria as cidades de um extremo a outro procurando as carteiras vazias. Eu era um deles, pegava aquela carteira vazia e amassada e alisava com o ferro de engomar frio,até que ela ficava completamente dessamassada, já aberta e parecendo uma cédula de dinheiro.

Essas cédulas de mentirinha tinham um códiog de valor, segundo a raridade dos maços secos de cigarro. As cédulas de maços de cigarros populares, como Asas, Astória e Iolanda eram as menos valiosas, valiam menos que as médias como Continental, Luiz XV e Hollywood. Porém havia as notas mais valiosas, as graúdas, eram a dos maços vazios mais raros, como Lucry Stack, Philips Morris e Chesterfield. Não riam, please, mas com essas notas a gente constituia um verdadeiro comércio, com uma nota de Philips Morris se comprva um caminhaozinho de madeira, já com uma de Continental, apenas uma bola de gude. Com a de Hollywood era possível comprar um botão de tampa de relógio. Esse comércio, lógico, só funcionava no nosso meio, entre a meninada. Já naquele tempo o dinheiro estrangeiro valia mais que o nosso.

No caso de adquirir os maços secos de Lucry Stack, Philips Morris e Chesterfield, arrumar um deles era uma luta. É que na nossa cidadezinha existiam poucos fumantes dessas marcas. Eu mesmo, em Arcoverde, ficava horas escorado na janela do consultório do Dr. Ruy de Barros esperando que ele jogasse fora o maço vazio de Philips Morris. Um dia quase vou às tapas com um irmão porque ambos corremos para amanhar o maço vazio ao mesmo tempo. Eu ganhei a parada, cedi três de Hollyood.

O cigarro me trouxe muitos prejuízos. Apésas de asmático dfumei muito tempo, isso agravou a doença, so parei aos 45 anos, tarde demais para evitar as sequelas provocadas pelo fumo. Mas, creiam, não esqueci dos maços vazios de cigarro, afinal fumar é uma coisa e brincar com os maços vazios outra coisa. De vez em quando quando cvejo um maço vazio eu apanho e desdobro fazendo uma cédula e recordo do tempo que a gente brincava de dinheiro de mentirinha, era o tempo em que a gente era feliz e não sabia. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 10/09/2015
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