OH! CORAÇÃO, POR QUE ESTAIS TÃO TRISTE?
 
Para José Mascarenhas, in memória

          Alguns falam que à morte finda tudo. Outros acreditam que ela representa uma passagem, uma oportunidade para o reinício segundo a Misericórdia Divina. O fato é que ela é real, e o que se descortina com a sua chegada ainda permanece envolto à mistérios, diria uma questão de fé! Dia 07 próximo passado, a Mansão Celestial recebeu mais um hóspede especial, porque afinal, todos nós somos assim aos olhos do Senhor. Partiu José Mascarenhas de Lima, meu último tio por parte materna. Simples, como ele mesmo era, foram nossas despedidas também, evocando recordações de situações pitorescas vividas ao lado dele, tudo com uma serenidade profunda, envolvida numa paz emotiva. Seu semblante estático, inerte de agora, contrastava com a dinâmica vital que o movera durante estes 95 anos de existência terrena entre nós.

          Guardo comigo uma relíquia de família. Um caderno antigo de poesias e lembranças escrito à mão, com uma letra cursiva maravilhosa, que pertencia a minha tia Orisalba Mascarenhas, a poetisa mor da família, que foi ao encontro do Pai em novembro de 1962 às nove horas da manhã. Neste livro encontrei um acróstico belíssimo, dedicado ao tiZé, ofertado pela generosidade de sua irmã mais nova:

   
  Já que me amas o que te falta então?
     O meu amor já tens!...O que mais queres
     Somente a ti darei meu coração...
     E morrerei por ti. Se tu quiseres!...


               A exatos 70 anos passados, mais precisamente no dia 11-3-1945, tia Orisalba presenteava tio Zé Mascarenhas com esse amor fraternal maravilhoso, jóia rara polida pelo coração sensívele e afetuoso.

               Naquele espaço de solo sagrado destinado a guardar nossos entes queridos falecidos, pela primeira vez eu senti uma sensação de paz, com um sol de final de tarde a iluminar aquela grama verde de forma diferente. A brisa que soprava não aquecia nem resfriava, mas parecia trazer uma mensagem distinta da tristeza, conforto e sossego é o que sugeria aquele momento e o que consegui captar. As pessoas presentes pareciam compreender isso, esta imensidão que não era melancólica, mas transitando entre a tristeza da perda carnal e a alegria do espírito liberto. Agora a família estava toda reunida no Altar do Senhor Pai novamente como em um dia esteve antes: Maria e Francisco, com seus filhos Alberico, Aderson, José, Rosalba, Francisca, Ediméia, Betisa, Orisalba e minha amada Izaura, todos os Mascarenhas de uma geração. Fica a nossa com seus legados para dar continuidade a saga. Assim, mais uma vez eu cito tia Orisalba , quando escreveu:
Oh! Coração, por que estais tão triste?..
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Foto: José Mascarenhas entre 18 e 20 anos de idade e eu com 19 anos. Percebo sim, alguma semelhança física.
Ricardo Mascarenhas
Enviado por Ricardo Mascarenhas em 12/09/2015
Reeditado em 23/05/2021
Código do texto: T5379614
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