De Setembro ainda me Lembro...

Oito de setembro! Ainda parece agosto! Ao fundo uma nuvem marrom de poeira trazida pelo vento que levanta as roupas dos varais dos quintais e os vestidos das senhoras de respeito. Folhas secas do pomar do Sr. Didi de 1958, gritos na rua, um doido varrido ouvindo Engenheiros, outro jogado no leito de sono profundo, uns subindo a escadaria do metrô atrás de uma catraca, filas em todos os lugares, pássaros alvoroçados, jabuticabas mortas caindo sob o olhar tristonho das maritacas, os medos dos moradores de rua, olhando assustados os carros acelerados, cancioneiros de mesas de lata pintadas com tinta vermelha e propaganda de cerveja, tentando esquecer o dia de amanhã... Todo mundo querendo fazer ou chegar num lar.., em algum lugar...

E com essas chuvas de terra dos fins de tarde em Miguelópolis, setembro ainda me lembra os blues de outras eras..., Guns n Roses, Bon Jovi e Bezerra da Silva fumando a pólvora do cano de seu revólver... Aquelas barracas voadoras, aqueles desodorantes do Boticário (adoráveis!), que exalavam do corpo macio das moçoilas afloradas, Mamonas Assassinas tocando no toca-fitas de um velho fusca bege ano 76, o bafo quente advindo do Rio Grande e seus tucunarés fritos, as vidas longas das crianças e adolescentes que, além da traquinagem pueril e inata de seu tempo, aliado ao fato de não interpretarem as placas e as arrancarem pela raiz, arrastando-as com poste e tudo até o carrinho de lanche mais próximo, cuja fome era incomensurável... Tudo isso, ou simplesmente isso, oh Grande Mestre do Universo, me faz verter lágrimas de saudade...

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 16/09/2015
Reeditado em 16/09/2015
Código do texto: T5384049
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