O Fiscal de Sarney

Os mais adentrados nos anos devem se lembrar do Plano Cruzado do governo Sarney, o tabelamento dos preços organizado pelo ministro Dilson Funaro e sua equipe. Buscaram até gado escondido nos pastos. E quem aumentasse os preços era punido. E tome zoada nos meios de comunicação. Instituiram, pasmem, os "fiscais de Sarney". As pessoas viam, pela televisão, carinhas enrolados em bandeiras nacionais, quando encontravam aumento indevido de preços, fechando supermercados. Era um frisson danado. E chegavam a cantar o hino nacional. Chose de loque.

Ora, isso contagiava. Em pesqueira havia um peemedebista rôxo, chamado Rocha, ele gostava de tomar umas lapadinhas, era veemente e vivia repetindo: Rocha é Rocha!Rocha foi cercado no golpe de 64 por metralhadoras em Caruaru e não abriu da parada. Para Rocha medo e cara feia é safadeza!". Bocão, claro. Mas era arengueiro e defensor da esquerda. Pois bem, um supermercado da cidade aumentou alguns produtos e ficou fora do tabelamento do governo, remercou os produtos com aquela maquininha e Rocha viu. Jpa estava calibrado era quase meio-dia, Rocha começava a beber às dez. Resultado, Rocha resolveu bancar o fiscal do Sarney, era um dia quarta-feira, o dia da feira de Pesqueira, o supermercado apinhado de gente, ele subiu num tamborete, fez um discurso declarando que o supermercado estava fechado por ordem do presidente da República, Sarney. Não deu outra, o dono do supermercao chamou a polícia e prenderam Rocha por subversão da ordem. Quem o soltou foi um advogado dos índios, também militante do PMDB, que ameaçou denunciar o fato à Polícia Federal. Mas a remarcação dos preços não foi afetada. Em Pesqueira anão valia o Plano Cruzado. Mas a lei que sempre valeu, a dos mais fortes, a lei dos ricos.

Rocha continuou lutando, mas a sua ficha caiu e ele entendeu que nunca se deve lutar movido por noticiário de televisão. Mais: desse dia em diante ele que admirava Sarney passaou a detestá-lo. Nos bares metia o pau no presidente, mas não foi mais preso. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 24/09/2015
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