Prometi-lhe diversas coisas que sabia jamais poder cumprir. Mas o amor é assim. Dizem que não se deve chamar amor. Então se chama o que? Amor mesmo. Tolo sentimento assim de um estado latente de carência de um e outro, advindo daquela necessidade do calor dos corpos tão próximos.

Amava seu jeito fútil, meio leviano com tudo. E eu vago, sempre divagando, esperando que a solução caísse sobre nossas cabeças. Prometia-lhe muito mais que simples rosas, pois estas dei-lhe de montes. Acho que ele me amou tanto quanto eu o amei, pois num dia apareceu-me de surpresa ao portão, num momento indevido. Dizia-me não aguentar de saudade. O lado carente dele pungia mais naquele momento, enquanto eu amofinava certas preocupações.

O que tinha os outros com os nossos sentimentos? Viviam nos olhando como se fossemos impuros. Decerto que somos todos mesmos impuros, mas o sentimento que nos unia não tinha nada de impuro. Havia denguices e desejos de afagos demorados. Em vários momentos ele me amava apenas como seu protetor, pedindo meus magros braços em enlace ao seu corpo. Repartíamos o calor.

Prometi-lhe mais que uma vida ao meu lado. Prometia-lhe a felicidade. Imaginem só! Rosas, comprava-se mesmo que murchas numa banca de uma esquina qualquer, agora a felicidade... Nem se compra, nem se obtêm a custo e sacrifício, nem existe mérito. Como prometia-lhe o que nem tinha, o que nunca acharia, nem ninguém nunca achou.

É provável que ele não tenha crido, mas é que me mostrava tanta fé aninhando-se ao meu corpo, transmitindo-me seu calor e me pedindo o meu. É que vivemos de fé, pelo sonho, pelo sonho vamos e pelo sonho chegamos...

Quando se me pergunto se não creio em nada, apenas respondo: creio no sonho! Mas não respondo isso a ninguém, e quando indagado sobre, apenas abaixo meus olhos e sorrio melancolicamente.

Viver de fé, e isso às vezes nos faz amar, e amar no sentido de ter ternura. No descanso da dor e do desespero existe um hiato que é a fé.