RELACIONAMENTOS

O essencial e o necessário nem sempre são perceptíveis... em tempos de relacionamentos fluídos, de onipresença tecnológica e outras “facilidades” que acabam com o conceito de privacidade, a capacidade de perceber o óbvio e agir de forma simples pode ser interpretada como ignorância.

Ultimamente, observo que as pessoas vêm utilizando o mantra “eu prefiro ser feliz a estar sempre certo”. Na expressão, encontro duas premissas equivocadas: a) primeiro, há questões que devem ser resolvidas, e não procrastinadas; e b) ainda, é necessário ter a sabedoria e discernimento para decidir o quão é importante o assunto para incubar uma discussão.

Culturalmente, somos uma sociedade que valoriza muito as realizações pessoais e profissionais... todavia, a atenção dispensada é tão vaga que meras projeções de felicidade ou sucesso acabam por satisfazer o interesse das pessoas – incluindo parentes, amigos, colegas etc. Por isso, não raramente nos surpreendemos com notícias de separações, perda de condições econômicas... afinal, acabamos sendo superficiais e rasos.

Eu tenho a consciência de que a maioria das pessoas não possui o hábito ou a paciência de racionalizar sobre as questões do próprio cotidiano – é muito mais fácil e agradável perder tempo no aprofundamento da desgraça alheia. E isso faz com que o essencial e necessário não seja tão óbvio.

É antigo o conceito de que em um relacionamento o casal tem de ter objetivos semelhantes, e que para conseguir atingi-los é imprescindível a existência de sincronia. Às vezes, a mera vontade é insuficiente, ou cada um contribuindo de forma dissonante que inviabilize atingir a meta, ou ainda a falta de comprometimento... essas frustrações, por menores que sejam, acabam degradando a relação.

Não existem pessoas perfeitas, muito menos relacionamentos... o máximo tangível é resolver de forma simples aquilo que é simples – um pedido de desculpas por um pequeno erro, ou desculpar uma falha involuntária; ainda, ter consciência de valorizar de forma sincera as qualidades do/a companheiro/a, assim como relevar pacientemente seus defeitos (gostamos das pessoas como elas são e, a partir do instante que tentamos muda-las, podemos acabar nos decepcionando ainda mais).

Quanto aos problemas mais complexos, um questionamento: se no dia-a-dia a maioria dos casais não conseguem nem manter um relacionamento sadio em épocas normais, como enfrentarão um período turbulento e de crise ? Soa maniqueísta a afirmação, mas perdemos parte substancial de nossa personalidade em prol da entidade formada no relacionamento.

E na formatação desse amálgama é que nos defrontamos com os maiores problemas... nos decepcionamos quando percebemos que o outro não é “perfeito”, ou impomos os tons mais fortes de nossa personalidade. Prevalece o individualismo em detrimento à relação.

Não sou especialista em relacionamentos – já fracassei muito mais do que eu gostaria. Mas sou uma pessoa com experiência suficiente para observar meus próprios erros e de pessoas próximas, e com isso aprender.

Talvez a lição mais fácil e simples a ser aprendida é ter plena consciência de que vale a pena investir em um relacionamento ou, pelo menos, quais as reais expectativas que podemos ter... não é fácil racionalizar quando estamos apaixonados, mas com o tempo, é perfeitamente plausível enquadrar a realidade ao invés de nos perder em devaneios amorosos. A solidão é como fel, mas um relacionamento com uma pessoa incompatível com aquilo que desejamos é muito pior...

É essa a concepção necessária para o essencial e o necessário para ser feliz em um relacionamento... talvez.

SEBASTIÃO SEIJI
Enviado por SEBASTIÃO SEIJI em 28/09/2015
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