CURIOSOS COSTUMES

Os costumes populares muitas vezes são curiosos. Há poucas semanas, visitando uma família no interior de São Paulo, a dona de casa levou umas ferroadas de abelhas caseiras. Ao lado da janela do banheiro havia um enorme ninho de abelhas. Ao abrir a janela, as abelhas se assustaram. Furiosas se precepitaram por cima da pobre mulher. Perguntei-lhe por que não derrubava aquele ninho. Ela explicou que o caseiro lhe havia dito que ninhos de tais abelhas em casa não se devia derrubar, pois traziam sorte. A minha explicação foi de que a única sorte que traziam eram as ferroadas. O meu argumeno foi mais forte do que o do caseiro, e derrubamos o ninho, evitando futuras ferroadas.

Falando de costumes curiosos, achei interessante um relato do viajante e poeta Robert Southey em seu livro LETTERS, onde, durante uma curta residência em Portugal e Espanha em 1799, fala de que os agricultores da região das Galícia transportavam seus produtos em carroças puxadas por bois. Estas carroças tinham rodas inteiriças, sem aros, e rangiam muito ao andarem. Southey, e companheiros ingleses, aconselharam aos agricultores a engraxarem os eixos das rodas para que deixassem de chiar. Os agricultores se recusaram, explicando que este chiado fazia parte do trabalho, pois os bois gostavam deste chiado e, se o tirassem, puxariam com menos ânimo as carroças. Observem que Southey relatou isto em 1799!

Vejam, que curioso! Há mais de 40 anos, quando lecionava em Florianópolis/SC, visitando uma área agrícola, não muito para o interior, região colonizada por açorianos e galegos, encontrei os mesmos carros de boi, com rodas inteiriças, chiando. Naquela época nada sabia dos relatos de Southey de 1799. Um colega meu aconselhou os agricultores de Santa Catarina a engraxarem os eixos das rodas para que não chiassem tanto. Os agricultores argmentaram que o chiado fazia parte do trabalho. O carro de quem chiasse mais era considerado melhor trabalhador e mais admirado pelas moças.

Vejam só: os carros, os bois e os chiados das rodas eram os mesmos dos descritos por Southey dois séculos passados. O objetivo dos chiados, no entanto, havia-se mudado. Na Epanha e em Portugal o chiado visava animar os bois para renderem mais no trabalho, em Santa Catarina os chiados deveriam impressionar as moças. Não é interessante?

Hoje, provavelmente, já não existem mais as carroças chiadeiras, nem na Galícia de Southey, nem em Santa Catarina. Devem ter sido substituídas por tratores, assim como os jumentos do Nordeste estão sendo substituídos por motos. Os agricultores terão criado outros costumes, que os incentivem ao trabalho e que impressionem as agricultoras.

Inácio Strieder é professor e escritor.- Recife-PE.