SOB OS SIGNOS DO ZODÍACO

Encerrava-se um ciclo. Um agrupado de tensões curvou-se ao trabalho persistente e aos remédios do tempo.

Neste mundo povoado por tantas almas com realidades particulares, igualmente solitárias na fluidez das épocas, sentia-me vivo e desincumbido.

Tudo ficava para trás, vencido pela velocidade do carro. Na dianteira, haveria um caminho maior que seria desenhado pela altitude.

Enquanto ajeitava os pensamentos, avistei policiais e paramédicos a dispensar cuidados a um imigrante que fora assaltado. A mulher da vítima angustiava-se no idioma natal. Pouco conhecia da linguagem deste chão que recentemente os abrigara. Nem bem confiaram seu destino aos guarda-chuvas, meias, lenços e demais produtos que guarneciam o pequeno comércio e já teriam de conviver com a desdita urbana.

O motorista do carro ao lado, nos poucos segundos de espera, por certo indagou-se a respeito do imigrante, cujo drama foi exposto publicamente. Mas, tão logo o determinismo do semáforo convulsionou os motores, prosseguimos nossos torneios.

No caminho para o aeroporto, sirenes frenéticas cortavam o trânsito, exibindo outros perfis da violência desregrada. Máquinas mortíferas cruzavam o espaço e deixavam sequelas.

Enquanto avançava através do vistoso asfalto, percebi o "comércio" ambulante, os meninos de rua, os mendigos e seus cães. Ao ar livre, estampava-se a realidade econômica. As taxas de juros... - Hei!, cuidado moça! A roda de um veículo quase atingiu o pé da jovem que invadira a rua. Desprendida e altiva, ela me lembrou as modelos que desfilam na passarela do magazine MVXZC.

A propósito, o grande senhor do MVXZC, ontem, recebeu uma conveniente homenagem. Durante o agradecimento, ele falou sobre a realização material e o significado da existência. Entendi a mensagem como sendo um reconhecimento aos atributos da matéria e do espírito. O trabalho e a realização profissional, ao conferirem promoção ao lazer, seriam ainda mais importantes.

E por enveredar na aquisição de fôlego espiritual, eis-me aqui, viajante anônimo, descompromissado, que saiu a interpelar os luzeiros do firmamento.

Submetido finalmente a disciplina do avião, atraído pelo insondável e sob o signo das estrelas, coube-me um breve e derradeiro ensaio. Observei que, em terra firme, pequenas, difusas e trêmulas luminárias traspassavam a noite como faróis de ilhas desertas.

A dispersão terrestre revestida pelo ódio, por falsas certezas, por codificações, pelo extremismo e pela submissão; constituída de prazeres, vaidades e convencimentos, regulada por paixões e dissabores, preconceitos e discriminações, confinava-se em um diminuto abrigo que se tornava invisível, cada vez que a mente se abria para o infinito.